O avião angolano de David Cameron
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi criticado por utilizar um avião angolano da Sonair (Sonangol) na sua digressão pela Ásia.
O chefe do governo britânico é dos poucos europeus ocidentais que não tem avião próprio. E quando precisa de viajar, os serviços de apoio contratam um voo charter a uma das transportadoras aéreas da Grã-Bretanha.
Quando esses serviços tentaram alugar um avião para a digressão desta semana à Ásia nem a British Airways, nem a Virgin Atlantic, nem a British Midlands International tinham aviões disponíveis devido ao grande volume de passageiros na época da Páscoa.
Acabou por ser fretado um avião a uma empresa chamada Atlas Air, que usa aviões da Sonair, a companhia aérea da petrolífera angolana, Sonangol.
As queixas da comunicação social britânica não têm que ver com a qualidade do serviço, que não suscita qualquer queixa. O problema é a reputação internacional de Angola e da Sonangol.
Os jornais londrinos são unânimes em descrever a Sonangol como “uma empresa controversa”, na origem de “um inquérito do FMI sobre discrepâncias contabilísticas” de dezenas de milhares de milhões de dólares.
O Daily Telegraph, por exemplo, nota que segundo o governo, a Sonangol fizera pagamentos em nome do estado, que não foram contabilizados de maneira apropriada. Mas cita a organização Human Rights Watch a dizer que essa justificação é insuficiente.
O Guardian nota que a Sonair é propriedade da “Sonangol, cuja contabilidade foi em tempos questionada pelo FMI”.
O The Sun titula que “Primeiro-ministro voa direito a uma tempestade” e nota que Cameron se arrisca a um “embaraço”, por voar um Boeing 747 de uma empresa petrolífera “controversa”.
O Daily Mail escreve que o primeiro-ministro “está sob fogo cruzado” devido ao uso do avião angolano salientando, mais do que questões éticas, que, numa visita oficial, o chefe do governo britânico deve viajar num avião britânico.
David Cameron iniciou terça-feira uma digressão por vários países do sueste asiático, incluindo o Japão, a Indonésia e a Birmânia. Faz-se acompanhar de uma comitiva que inclui três dezenas de empresários britânicos, tendo em vista desenvolver oportunidades de negócio no mercado asiático.
De acordo com os jornais britânicos, o avião é bom e praticamente todo o Boeing 747 é de classe executiva. E especulam que a aeronave deve ser utilizada para os vôos das figuras do ramo petrolífero, entre Luanda e o estado americano do Texas.
Até ao momento, David Cameron não comentou o avião. Um porta-voz do primeiro-ministro disse que o próprio e o seu gabinete não sabiam que se tratava de um avião angolano, porque as aeronaves para as viagens do chefe do governo são escolhidas pelos serviços de apoio e não pelo seu gabinete.