O Presidente dos Estados Unidos disse que um “plano extraordinário” pode passar pelos Estados Unidos assumirem o controlo da Faixa de Gaza, reinstalarem os palestinianos noutros países e transformarem o território na "Riviera do Médio Oriente".
Donald Trump fez a proposta, que provocou suspiros audíveis, durante uma conferência de imprensa juntamente com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, nesta terça-feira, 4, na Casa Branca.
Num esquema cujos detalhes se desconhecem sobre como retiraria mais de dois milhões de palestinianos ou controlaria Gaza, Trump disse que tornaria "inacreditável" o enclave devastado pela guerra, removendo bombas não detonadas e escombros e reconstruindo-o economicamente.
"Os EUA vão assumir o controlo da Faixa de Gaza e faremos um trabalho com ela, também seremos os donos dela", disse Trump.
O Presidente acrescentou que a proposta tem o apoio da “mais alta liderança” no Médio Oriente e voltou a dizer que Egito e a Jordânia devem receberem os deslocados de Gaza, apesar de ambos os governos e os palestinianos já terem rejeitado categoricamente a ideia surpresa.
Ao sugerir "apropriação a longo prazo" pelos Estados Unidos, Trump disse que o seu plano para Gaza iria torná-la "a Riviera do Médio Oriente, poderia ser algo tão magnífico".
Ao intervir, Benjamin Netanyahu, o principal aliado dos EUA, disse que o plano de Trump poderia “mudar a história” e que valia a pena “prestar atenção”.
O primeiro-ministro israelita é o primeiro líder estrangeiro a visitar a Casa Branca desde o regresso de Trump ao poder e visava analisar uma segunda fase da trégua Israel-Hamas após um cessar-fogo inicial de seis semanas.
Netanyahu saudou Trump como o “maior amigo” de Israel e elogiou a sua “disposição para pensar fora da caixa”.
Ao alargar-se em explicações sobre o seu plano, Trump afirmou que “não deveria passar por um processo de reconstrução e ocupação pelas mesmas pessoas que... viveram lá e morreram lá e viveram uma existência miserável lá”.
Reações
As primeiras reações surgiram de seguida.
O enviado palestiniano junto da ONU rejeitou fortemente as sugestões de Trump e afirmou que “a nossa pátria é a nossa pátria”
“Penso que os líderes e o povo devem respeitar os desejos do povo palestiniano”, sublinhou Riyad Mansour.
Quanto à situação no terreno, Netanyahu disse que vai vencer a guerra e não descartou um regresso às hostilidades com o Hamas, ou com outros inimigos na região, incluindo o Hezbollah do Líbano e o Irão.
“Vamos acabar com a guerra vencendo a guerra”, insistiu Netanyahu, ao mesmo tempo que prometeu garantir o regresso de todos os reféns detidos pelo Hamas.
Ele também manifestou confiança num acordo com a rival regional Arábia Saudita para normalizar as relações “iria acontecer”.
Mas depois de Trump ter divulgado a sua proposta, a Arábia Saudita disse que não formalizará os laços com Israel a menos que fosse estabelecido um Estado palestiniano.
Mais cedo, o Presidente Donald Trump já tinha abordado o seu plano.
“Acho que eles deveriam conseguir um pedaço de terra bom, fresco e bonito, e conseguirmos que algumas pessoas invistam dinheiro para construí-lo e torná-lo bonito e habitável e agradável e torná-lo um lar”, disse Trump aos jornalistas antes do seu encontro com Netanyahu.
Ele chamou Gaza um “local de demolição” e enquadrou o assunto como uma “alternativa” preferida para os habitantes da faixa devastada pela guerra.
“Neste momento, não têm opção. O que vão fazer? Têm que voltar para Gaza. Mas o que é Gaza? Praticamente não há um edifício em pé”, concluiu
Nos últimos dias, centenas de milhares de palestinianos na zona sul de Gaza marcharam para norte, em direção às suas casas, depois de Israel ter permitido o regresso de pessoas como parte do acordo de cessar-fogo para libertação de reféns com o Hamas.
Em declarações aos jornalistas na Casa Branca, nesta terça-feira, o enviado dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff, sugeriu que o Governo está a considerar renegociar partes do acordo de cessar-fogo que entrou em vigor a 19 de janeiro, um dia antes da tomada de posse de Trump.
No início do mês, os governos do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Qatar, a Autoridade Palestiniana e a Liga Árabe divulgaram uma declaração conjunta no início em que rejeitaram quaisquer planos para retirar os palestinianos dos seus territórios em Gaza e na Cisjordânia ocupada.
Eles alertaram que tais planos “ameaçam a estabilidade da região, correm o risco de expandir o conflito e prejudicam as perspetivas de paz e coexistência entre os seus povos”.
Um grande número de palestinianos foi expulso das suas casas duas vezes no que é hoje chamado Israel.
Em 1967, a tomada da Cisjordânia e da Faixa de Gaza por Israel levou 300 mil palestinianos, a maior parte dos quais para a Jordânia.
Na guerra de 1948 que rodeou a criação de Israel, cerca de 700.000 palestinianos fugiram das suas casas, um evento que os palestinianos comemoram como Al-Nakba, palavra árabe para “a catástrofe”.
C/AFP e Patsy Widakuswara