O Presidente eleito de Cabo Verde, José Maria Neves, aponta África como a prioridade da sua acção na política externa, mas defende uma maior aproximação ao Mercosul e à NATO, através de uma visão pragmática, realista e inteligente da posição do país no mundo.
Em entrevista à VOA, Neves reitera que a polícia externa é conduzida pelo Governo, considera estar ultrapassada a polémica em torno do SOFA, o acordo que garante certa protecção aos militares americanos no país, e defende que as relações com os Estados Unidos devem estar ao mais alto nível.
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“A África será a minha grande prioridade, Cabo Verde só tem importância estratégica se estiver devidamente ancorado em África, será uma área que trabalharei em cooperação estratégica com o Governo para uma inserção competitiva de Cabo Verde no continente africano, desde logo na CEDEAO”, afirma o futuro Chefe de Estado.
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Ele lembra, no entanto, que “quem dirige a política externa de Cabo Verde é o Governo, mas o Presidente pode dar um grande contributo particularmente em África, onde os regimes são todos presidencialistas” e, em relação à conversa mantida na sexta-feira, 22, com o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, reiterou ter-se assentado no reforço da presença do arquipélago na CEDEAO”.
O alcance dessa visão, segundo José Maria Neves, deve ter em conta também a vizinhança de Cabo Verde, não só a CEDEAO, mas também com a Mauritânia, os Marrocos, Angola e África do Sul.
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"Inteligência adaptativa às mudanças"
Numa visão geral da diplomacia cabo-verdiana, o Presidente eleito diz que tem de ser uma “política externa pragmática, realista e inteligente, sobretudo uma forte inteligência adaptativa no sentido de analisarmos as grande mudanças que acontecem no mundo”.
Da mesma forma que o país tem uma parceria especial com a União Europeia, na opinião de José Maria Neves é “importante Cabo Verde continuar a trabalhar no sentido de uma forte parceria especial com o Mercosul, assim como nos aproximarmos da NATO no quadro da segurança estratégica”.
Estas aproximações permitirão ao arquipélago “ter uma participação activa enquanto um país útil, um país-ponte em beneficio de Cabo Verde”.
“Estarei a trabalhar muito perto com o Governo também com a UE, países do Golfo e países asiáticos”, promete o futuro Presidente.
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Instado sobre o tipo de relacionamento com os Estados Unidos, o antigo primeiro-ministro lembra que naquela condição (2001-2016) “nos aproximamos muito dos Estados Unidos”, com o arquipélago a ser beneficiado com dois programas do Millennium Challenge Account, a acolher os exercícios da NATO, “com um grande apoio dos Estados Unidos” e o próprio Neves a ser recebido pelo então Presidente Barack Obama na Casa Branca.
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“As relações com os EUA são fundamentais para Cabo Verde e temos de trabalhar todos os dias para elevar esta parceria a um patamar muito mais elevado”, aposta Neves, para quem o SOFA (Acordo para o Estatuto dos Militares, na sigla em inglês), “não é nenhum problema”.
Ele lembra que “já houve um ´Sofa´ com o Reino da Espanha e também durante os exercícios da NATO em Cabo Verde.
“Alguns juristas levantaram a questão da inconstitucionalidade, o Parlamento aprovou, o Presidente da República já ratificou e não havendo nenhum outro problema constitucional de fundo, acho que não há absolutamente nenhum problema”, assegura o próximo inquilino do Palácio do Plateau.
Caso Saab
Quanto ao "caso Alex Saab", o enviado especial da Venezuela detido em Cabo Verde e extraditado para os Estados Unidos e que esteve na origem de um complexo processo judicial, José Maria Neves começa por destacar que o processo passou pelo Supremo Tribunal de Justiça e pelo Tribunal Constitucional, mas afirma não possuir todos os dados para se pronunciar.
“Só tenho os dados que saíram na comunicação social e o Presidente da República deve pronunciar-se de modo fundamentado relativamente a estas questões, e só me pronunciarei se for o caso no momento certo e quando estivar na Presidência e na posse de todos os dados”, conclui.
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José Maria Neves, antigo deputado, ex-presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina, ex-presidente do PAICV e primeiro-ministro entre 2001 e 2016, era docente da Universidade de Cabo Verde até ganhar a eleição presidencial, no passado 17 de Outubro, na primeira volta, com 51,7 por cento dos votos, numa votação em que havia sete candidatos.
Quinto Presidente de Cabo Verde, o quarto por eleição directa, Neves sucede a Jorge Carlos Fonseca quando tomar posse no dia 9 de Novembro.
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