O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) disse que a comunidade internacional perdeu a mão no país, onde não tem qualquer capacidade de influenciação e respondeu a pedidos do secretário-geral para que o partido se alinhe a determinados princípios, remetendo António Guterres para os “amigos” dele no Mali, na Guiné-Conacri e no Palácio Presidencial em Bissau.
Em conversa com alguns meios de comunicação na quinta-feira, 2, em Bissau, Domingos Simões Pereira afirmou que "vimos a comunidade internacional aflita para tentar recuperar uma capacidade de intervenção que de facto perdeu”.
“Já na altura chamávamos a atenção de que não é competência, nem vocação da comunidade internacional estar a substituir os órgãos de soberania nacional", lembrou Simões Pereira, acusando a comunidade internacional de ter atingido “pontos de incongruência que lhe retirou a capacidade de intervenção".
O antigo primeiro-ministro deixou entender que a comunidade internacional cansou-se da Guiné-Bissau e a acusou de letargia.
“Estamos na presença de um comodismo, de uma letargia absoluta, não nos incomodem, estamos a descansar, estamos cansados da Guiné-Bissau", continuou Simões Pereira, quem acrescentou que “a CEDEAO pede ao PAIGC para criar condições para que possa "voltar ao jogo", mas sublinha que o partido não vai "perturbar o descanso da comunidade internacional".
Os "amigos" do secretário-geral da ONU
Domingos Simões Pereira também apontou baterias a António Guterres quem, segundo ele, disse que o PAIGC precisa de estar alinhado com determinados princípios.
"Vá dizer isso ao seu amigo que está na Guiné Conacri, aos seus amigos no Mali, vá dizer isso a todos os países, incluindo na Guiné-Bissau, ao seu amigo que está no Palácio da República, que não respeita a ordem constitucional da Guiné-Bissau", respondeu o líder do PAIGC, reiterando que o partido está alinhado com o povo e a ordem constitucional.
Domingos Simões Pereira perguntou ainda “como é que a opinião pública avalia, que por exemplo, alguém que esteve na Guiné-Bissau como representante do secretário-geral das Nações Unidas, assim que se dá um golpe de Estado na Guiné-Conacri vira ministro da Saúde do atual Governo da Guiné-Conacri”. Ele se referia a Mamadou Diallo.
E lembrou que “o mesmo exemplo está a acontecer no Mali e noutros países, é a comunidade internacional a perder a face", disse.
Ao abordar outro tema da actualidade guineense, o presidente do PAIGC disse que o avião de propriedade desconhecida não é um caso isolado.
“Não é caso isolado, nem um simples acaso o que está a acontecer. O acaso terá sido o facto de o avião ter sido abordado. Se outros aviões que passaram por cá tivessem sido abordados, já há muito tempo que teríamos tido esta situação…”, afirmou.