Por que o governo não consegue responder aos milhares de brasileiros nas ruas?

  • Maria Cláudia Santos

Tarifa Zero

Milhares de manifestantes ocupam novamente, nesta quinta-feira (20), as ruas de dezenas de cidades brasileiras dentro do movimento que teria como objetivo mostrar que o Brasil “acordou” para os diversos problemas que a sociedade enfrenta.

Com o lema “vem para a rua”, grupos que se organizam pelas redes sociais mantiveram as manifestações previstas para essa quinta-feira, mesmo depois do anúncio, em alguns municípios, da redução dos preços das tarifas de ônibus.

Mapa do Brasil

Apesar do recuo nos preços ser considerado uma vitória dos manifestantes, eles lembram que o valor das tarifas do transporte foi só um estopim para levar as pessoas às ruas, há muito tempo já descontentes com muitas outras coisas.


A pauta nas ruas é cada vez maior, começando pela falta de políticas públicas dos governos federal, estadual e municipal, passando pela atuação inadequada de políticos em geral, chegando até a revolta com projetos do Congresso que discutem a “cura gay”.

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Brasil com as manifestações


Analistas político e sociólogos tentam explicar porque o governo da petista Dilma Rousseff, com histórico de boa aprovação, que propaga no mundo inteiro o feito de ter retirado milhares da pobreza, se depara com essa revolução nas ruas.

Para estudiosos, a primeira explicação tem relação com a amplitude das demandas dos manifestantes, que protestam, na verdade, contra o “sistema” como um todo. A multidão não está indignada somente com o que fez ou deixou de fazer Dilma Rousseff.

O povo nas ruas está revoltado também com o Congresso brasileiro que, no início da nova legislatura, escolheu, para presidentes das duas Casas, líderes e integrantes de comissões que foram repudiados por milhares. Uma lista com 1,3 milhão de assinaturas pedindo a saída do presidente do Senado, Renan Calheiros, também tem sido ignorada.

O procurador da República de Minas Gerais, Álvaro Souza Cruz, confirma o tanto que o descontentamento do brasileiro hoje é amplo. “A população está cansada de partidos políticos que não a representa. Está cansada de uma imprensa pouco transparente, pouco comprometida com a verdade das informações. Está cansada da corrupção, da impunidade. A população, como todos nós, quer uma mudança mais significa e que, se possível, seja feita pelo diálogo, sem violência”, afirma.
Mas, é claro, que muitas reivindicações dizem respeito diretamente ao governo da petista. Na economia, a inflação de alimentos está em 13,5%. As famílias brasileiras já comprometem quase um quarto da sua renda mensal com o pagamento de dívidas. O desemprego de jovens tem índices expressivos.
Para o cientista político, Malco Camargo, o que diz respeito ao governo Federal, como a melhoria dos serviços de saúde, educação e transporte, pode ser explicado por um erro que os governos cometem.

“O que a manifestação deixa claro é a importância de se inovar na produção de políticas públicas. Nenhum governo pode se acomodar com políticas públicas feitas no passado. As pessoas incorporam essas políticas no dia a dia e querem cada vez mais. É o chamado círculo virtuoso da política para o eleitor. O eleitor ganha e, cada vez mais, ele vai incorporando novas demandas em relação à classe política.”

Mas, para o estudioso, o movimento nas ruas do Brasil só vai conseguir forçar mudanças no governo Dilma ou qualquer outra transformação se definirem mais claramente suas bandeiras.

“É exatamente pela falta de clareza das suas lideranças de qual é a bandeira do movimento que a versão do que está acontecendo pode ser dada por outras pessoas que não aquelas que estão nas ruas. Pode ser dada pelas velhas elites políticas, tão combatidas pelo o movimento, pode ser dada pela mídia, que também tem seus interesses, pode ser dado por outros agentes da sociedade civil organizada ou não organizada. O fato e a versão do fato têm que ter a mesma linha. É por isso que o movimento tem que ter clareza de qual é, de fato, a sua bandeira”, conclui.

Protestos no Brasil - Segunda Semana