Uma semana depois de um grupo de insurgentes assaltar e sitiar as sedes distritais de Mocímboa da Praia e Quissanga, na província moçambicana de Cabo Delegado, a população ainda vive um misto de espanto e incerteza, com milhares a deixarem as vilas.
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“Muitos viram o que nunca esperavam ver, a vila inteira ser dirigida por al-Shabab”, disse à VOA Rassul Daude, morador de Quissanga, que descreveu o espanto da população e a ousadia do ataque dos insurgentes, que tornou mais inseguras as aldeias locais.
“A vida não voltou a ser a mesma, isso você percebe nas pessoas. Muitos moradores entenderam a sua vulnerabilidade e por isso deixaram as vilas e outros, sobretudo os nativos sem onde ir permanecem, mas muito inseguros”, explicou um jornalista local, que prefere o anonimato, mas assegurou que em Quissanga os insurgentes não mataram civis.
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Limpeza total
Vários relatos de moradores indicam que muitas pessoas que foram identificadas a “divinizar” os insurgentes – muitos são naturais -, durante a sua retirada em Mocímboa da Praia, estão a ser perseguidas e torturadas por forças estatais.
“As únicas infraestruturas públicas que ficaram intatas são a escola secundaria e o hospital de Mocímboa da Praia, onde os insurgentes distribuíram comida aos doentes internados antes de saírem”, relatou um professor de Mocímboa da Praia, que descreveu uma vaga de deslocados e um quase abandono da vila.
Numa semana, cerca de mil deslocados chegaram a Pemba, a capital de Cabo Delegado, em 10 embarcações artesanais, muitas vezes superlotadas, provenientes de Mocímboa da Praia e Quissanga, segundo as autoridades locais.
Do total de deslocados, 250, incluindo 41 crianças. desembarcaram no bairro Paquitequete, um subúrbio nos arredores de Pemba e foram acolhidas em 55 casas, disse Aifo Corrente, um líder local.
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Vários deslocados que fugiram dos ataques de insurgentes nos dias 24 e 25 chegaram a Pemba com minúsculas trouxas, dos poucos pertences que conseguiram retirar das casas logo depois de ter cessado a investida militar do grupo localmente conhecido por al-shabab, uma facção do Estado Islâmico.
Um sobrevivente, Badrune Assane, contou que foi detido pelos insurgentes durante o assalto a vila de Quissanga, e foi agrupado a outros homens, enquanto o grupo de atacantes esperava a reação das forças estatais que tinham fugido da vila.
“Eu fui capturado e disseram junto com outros homens para permanecermos ali e diziam que ‘queremos paz`”. contou à VOA Assane, quem conseguiu escapar e levar a mulher e filha para a ilha das Quirimbas numa embarcação artesanal naquela noite.
“Casas de população contam-se, casa do Governo não restou nada”, disse, sublinhando que a “situação não é boa”.
Os insurgentes, prosseguiu Badrune Assane, continuam acampados na aldeia Mbanguia, próximo de Quissanga, “e juram que não vão sair dai até virem os militares estatais”, que continuam for a da região
Muitos deslocados continuam com um futuro incerto, sem saber onde ir, e a esperança de retornar as vilas assaltadas, depois de perder quase tudo.
Supaque Abdala, teve a casa incendiada por insurgentes no ataque a vila de Quissanga, e uma semana depois de escapar o ataque, diz ter a certeza que não quer repetir o que viveu e escolheu não retornar a aldeia.
A incerteza aumentou entre os deslocados quando lhes chegou a noticia da descoberta em Pemba de armas de fogo escondidos num mangal do bairro Chibwabwari, nos arredores de Pemba, onde chegaram também esta semana vários deslocados.