A polícia guineense impediu nesta quarta-feira, 14, uma marcha convocada pela União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), para pedir por mais empregos, tendo recorrido a gás lacrimogéneo.
Enquanto o Governo defende que não houve “autorização” para a marcha e perante o relato de quatro feridos resultantes da carga policial, aquela central sindical convoca uma nova manifestação para o próximo dia 28.
Your browser doesn’t support HTML5
Júlio Mendonça, secretário-geral da UNTG responsabilizou "o Presidente da República, o primeiro-ministro e o ministro do Interior por estas violações, pois são eles os autores pela situação".
"Sabem perfeitamente que o que os agentes estão a fazer não coaduna com o que está plasmando na Constituição da República", sublinhou Mendonça.
Os manifestantes, que estavam concentrados à frente da sede da Central Sindical , foram dispersados com de gás lacrimogéneo, sem que pudessem chegar ao Parlamento, o destino final da marcha.
Gueri Gomes, coordenador da Casa dos Direitos, uma das organizações da sociedade civil, que esteve presente na manifestação, condenou a actuação da polícia.
"É grave e desumano lançar gases num espaço fechado. Não é normal impedir uma simples manifestação, porquanto não houve acto de violência e nenhum acto que possa pôr em causa a paz. Trata-se de uma simples manifestação dos trabalhadores que acham que algo não está bem. E usando a força contra a população...a população da Guiné-Bissau tem uma responsabilidade, ser unida e dizer basta", afirmou.
A manifestação deveria ocorrer também nas principais cidades do interior do país, mas houve igualmente a intervenção da polícia, sobretudo, em Bafatá e Gabú (ambas no leste do país), e em Bubaque (Sul insular).
Em entrevista a VOA, o ministro do Turismo e porta-voz Governo, Fernando Vaz, justificou a actuação policial com a falta do cumprimento das normas por parte dos organizadores da marcha:
"Não foi solicitada, como impõe a lei, a autorização para nenhuma manifestação. Esta autorização deve ser dirigida ao presidente da Câmara Municipal de Bissau, que, aliás, está ausente do país, assim como o seu vice-presidente. Portanto, não tendo conhecimento do acto, por parte das pessoas que referi, o Ministério da Administração Interna, perante uma situação de alto risco, não poderia garantir a segurança para os manifestantes sem os tais preceitos legais", sustentou Vaz.
Quanto às criticas de que as autoridades políticas são insensíveis aos direitos e liberdades manifestação, o porta-voz Governo disse que o "sindicato em causa já realizou várias manifestações e não houve nenhuma intransigência do Governo".
"Ora, aquilo que é normal em qualquer país é o cumprimento da lei. Havendo o cumprimento da lei, não há nenhuma intransigência da parte do Governo", concluiu.
Os sindicatos filiados na UNTG exigem o fim dos impostos e subsídios atribuídos aos titulares de órgãos de soberania, nomeadamente os Presidentes da República, do Parlamento, do Supremo Tribunal de Justiça e o Primeiro-ministro.
Para a maior Central Sindical, os valores auferidos mensalmente por aquelas personalidades são exagerados, enquanto os funcionários públicos vivem em condições deploráveis, devido, sobretudo, ao aumento e à introdução de novos impostos e consequente subida de preços de produtos essenciais no mercado interno.