A Amnistia Internacional (AI) advertiu para o aumento dos casos de abuso das forças de segurança e de violações de direitos humanos no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos Rio-2016.
Como forma de prevenir que tal aconteça a organização de defesa dos direitos humanos lançou no Brasil a campanha “A violência não faz parte desse jogo”.
O relatório da AI divulgado nesta quinta-feira, 2, revela que, só em 2014, ano da Copa do Mundo, operações policiais realizadas no Estado do Rio de Janeiro resultaram em 580 mortes.
O número foi 39,5 por cento maior do que o de 2013, quando 416 pessoas morreram em decorrência de acções da polícia.
Já em 2015, a quantidade de mortes relacionadas com essas operações cresceu ainda mais.
Em entrevista à VOA, a porta-voz da Amnistia no Brasil, Renata Neder, acusa a polícia do Rio de Janeiro de matar muito
“No ano do Pan-Americano, em 2007, mais de 1.300 pessoas foram mortas pela polícia do Rio de Janeiro e foi o ano que mais pessoas morreram no Rio nos últimos 10 anos, o mesmo aconteceu no ano da Copa, com um aumento de 40 por cento, é uma polícia que mata muito”, denuncia Neder, que acusa as autoridades “de não terem aprendido com essas experiências negativas e, por isso, não terem tomado medidas para evitar que essas violações se repitam”.
É neste contexto que, a dois meses do início das Olimpíadas, a AI lança uma campanha de denúncia e prevenção, denominada “A violência não faz parte desse jogo”.
Em resposta, o responsável da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Rio de Janeiro, Andrei Rodrigues, classificou em declarações à imprensa de "especulação" qualquer previsão de violação de direitos humanas motivada por grandes eventos.
Em resposta, Renata Neder diz “não aceitar esta posição porque o nosso relatório é um resumo de muitos casos e factos denunciados pela Amnistia e várias organizações de defesa dos direitos humanos desde 2007”.
Exército e Guarda Nacional nas ruas
No documento, a AI manifesta a sua preocupação com a presença do exército e da Guarda Nacional no Rio de Janeiro para reforçar a segurança durante as Olimpíadas, como aconteceu em 2007 durante os Jogos Pan-americanos.
Renata Neder alerta que a AI não é contra essa presença, mas sim “como vão actuar já que, por exemplo, o exército é treinado para cenários de guerra” e não houve preparação para um evento como as Olímpiadas.
A organização de defesa dos direitos humanos critica ainda a falta de transparência dessas forças, “o que impede que as pessoas denunciem violações a tempo”.
No relatório, a AI lembra que entrarão em vigor a Lei Antiterrorismo e a Lei Geral da Olimpíada, aprovadas neste ano pela Presidente afastada Dilma Rousseff que impõem restrições à liberdade de expressão.
A organização não governamental prometeu encaminhar o seu relatório às autoridades de segurança com uma petição a exigir medidas contra as violações de direitos humanos.