A pobreza extrema em Angola cresceu de 35 para 44 por cento entre 2019 e 2022 e afecta neste momento quase metade da população, indicam resultados do inquérito do Afrobarómetro, uma organização internacional com representação no país.
Assistência médica e medicamentosa, alimentação, acesso à água, salários e combustíveis para a cozinha são os factores que espelham uma degradação social e económica nos últimos anos.
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Centenas de inquéritos em todas as províncias, entre Fevereiro e Março, mostram angolanos forçados a efectuar o percurso da pobreza fraca e moderada para a extrema, tida como a mais crítica dos três níveis, que reflecte a situação daqueles que estiveram sempre ou frequentemente sem os bens acima mencionados.
O pilotólogo Carlos Pacatolo, investigador da Ovilongo-Estudos de Opinião, parceira do Afrobarómetro em Angola, aponta que “as pessoas que estavam numa situação confortável, sem pobreza, se em 2019 eram 31 por cento da população, em 2022 só são 21 por cento.
“Portanto, há 10 por cento que estavam bem e caíram, estão em situação moderada ou mesmo de pobreza extrema”, acrescenta.
Pacatolo diz que a situação “é grave, a condição de vida do angolano degradou-se, isso é de todo momento, vivemos agora e a situação de pobreza extrema ficou pior no meu rural, atingindo 63 por cento da população”.
A qualidade dos postos de trabalho, segundo aquela académico, é outro aspecto a gerar preocupação na avaliação da pobreza em Angola.
“Estamos a falar de um índice multidimensional de pobreza, mas se olharmos isoladamente a situação mais crítica tem a ver com a privação de salários ou outra fonte de rendimento, os que estão em situação de privação são 44 por cento dos angolanos”, argumenta Carlos Pacatolo.
A acompanhar a divulgação dos resultados do Afrobarómetro, em curso há algumas semanas, está o consultor João Misselo da Silva, da Organização Humanitária Internacional (OHI).
Misselo diz não acreditar que o país esteja a 40 mil empregos da cifra prometida pelo partido no poder, o MPLA, conforme salientou o seu presidente, João Lourenço, na província do Huambo.
“Os indicadores macro-económicos do país nos últimos três anos não permitem ter tamanha capacidade de empregabilidade, e continuamos a assistir a uma avalanche do ponto de vista da pobreza extrema, quer seja na camada jovem, em pessoas superiores a 50 anos e em adolescentes e crianças”, assinala o activista, falando de “uma realidade visível em todo o país”.
Lourenço disse que o país criou, desde 2018, antes do período de referência para o estudo, 460 mil empregos, tendo destacado outras iniciativas tendentes a baixar a pobreza, num discurso em que reafirmou a resolução dos problemas do povo como o mais importante.