Os antigos dirigentes de Cuba e da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Fidel Castro e Nikita Krsushchev, tinham uma opinião muito negativa sobre as perspetivas de uma evolução revolucionária dos países africanos, revelam minutas de conversações entre os dois dirigentes, agora divulgadas.
Em maio de 1963, Fidel Castro deslocou-se a Moscovo para discutir as crescentes relações entre os dois países e procurar uma justificação para o acordo entre a URSS e os Estados Unidos, que levaram à retirada de mísseis soviéticos do território cubano e sobre o qual o dirigente cubano não foi informado com antecedência.
Documentos do Arquivo Estatal Russo de História Contemporânea, obtidos pelo Arquivo de Segurança Nacional, sediado em Washington, revelam que, num encontro na residência oficial de Zavidovo perto de Moscovo, “Fidel Castro pediu a Nikita Kruschev para dar a sua opinião sobre o futuro desenvolvimento político do continente africano, fazendo notar que ele próprio tinha uma opinião muito crítica sobre a perspetiva de um rápido progresso político em vários países africanos”.
Castro, que expressou grande admiração pelo então dirigente da Argélia, Ben Bella, disse que os argelinos “fornecem ajuda enérgica ao movimento rebelde na colónia portuguesa de Angola”.
“Envia armas, dinheiro e medicamentos e recebe também dirigentes do movimento guerrilheiro de Angola para treino militar”, afirmou Fidel Castro.
Krushchev comentou, segundo a minuta, que a libertação dos países africanos, que “tem vindo a acontecer rapidamente nos últimos anos, nem sempre produziu os resultados desejados”.
O dirigente soviético culpou as potências coloniais que “tentaram manter os seus lacaios na liderança dos jovens Estados africanos, instigando confrontos raciais” e ainda na “fraqueza organizacional das forças progressistas”.
“Os povos de África ainda têm que descobrir quais dos seus líderes são os verdadeiros defensores dos seus interesses”, disse o dirigente soviético, acrescentando que os africanos têm que “descobrir por si próprios que nem todos os brancos são exploradores e nem todos os negros são explorados e compreenderem que há negros da classe trabalhadora e negros burgueses”.
O então líder soviético manifestou depois uma opinião negativa sobre o primeiro Presidente da Guiné Conacri, Sekou Touré, que, paradoxalmente, teve péssimas relações com os países ocidentais e foi um dos principais apoiantes da luta de libertação na Guiné-Bissau.
Para Krushchev, os povos africanos “têm ainda que lutar contra o nacionalismo burguês no pior sentido da palavra e contra prostitutos políticos como Sekou Touré”.
A minuta do encontro diz logo de seguida “Fidel Castro expressou o seu total acordo com a opinião de Nikita Kruschchev e agradeceu-lhe por expressar a sua opinião”.
No encontro e quando fazia a apologia do governo argelino Castro revelou que o presidente argelino Ben Bella ajudou-o "a adquirir passapportes argelinos para alguns revolucionarios latino americanos que depois puderam usar esses passaportes para viajarem ilegalmente em trabalho continental em pa’ises latino americanos”
Castro disse ainda a Krushchev ser necessário “retirar Ben Bella do nacionalismo arábe burguês, torna-lo num conta peso à tendência de Nasser de unir o mundo arábe numa base anti comunista”.
O objetivo, disse Castro “deveria ser ter como alvo um confronto direto das duas tendências do movimento nacionalista arábe, o movimento naserista e o movimetno Ben Bella”.
Ben Bella foi derrubado num golpe militar em 1965