LESBOS, GRÉCIA - O Papa Francisco voltou no domingo à ilha de Lesbos, o ponto de encontro da migração que ele visitou, pela primeira vez, em 2016, criticando o facto de os migrantes serem negligenciados, o que chamou "naufrágio da civilização".
O Papa, que há muito defende a causa dos migrantes, visitou Lesbos um dia depois de ter feito uma repreensão contundente à Europa, que considera "dilacerada pelo egoísmo nacionalista".
"Na Europa, existem aqueles que insistem em tratar o problema como um assunto que não lhes diz respeito", disse o Papa que passou cerca de duas horas no campo de Lesbos em Mavrovouni, onde vivem cerca de 2.200 requerentes de asilo.
Veja Também Barco de resgate alemão com 800 migrantes africanos chega ao porto da SicíliaNo segundo dia da sua visita à Grécia, ele conheceu dezenas de crianças em busca de asilo e parou para abraçar um menino chamado Mustafa.
Mais tarde, as pessoas se reuniram numa tenda para interpretar canções e salmos ao pontífice.
O Papa Francisco advertiu que o Mediterrâneo "está se tornando um cemitério frio sem lápides" e que "depois de todo esse tempo, vemos que pouca coisa mudou no mundo no que diz respeito à questão da migração".
Ele disse que as causas "devem ser confrontadas - não as pessoas pobres que pagam as consequências e são até usadas para propaganda política".
A União Europeia está numa disputa com a Bielorrússia por causa do fluxo de migrantes que viajaram pelo antigo estado soviético para entrar na Polónia, Lituânia e Letónia, nos últimos meses.
Grã-Bretanha e França trocaram farpas sobre o número crescente de migrantes que fazem a travessia mortal do Canal para chegar ao Reino Unido, após o afogamento em massa de 24 de Novembro, que ceifou 27 vidas.
"A visita dele é uma bênção", disse Rosette Leo, uma requerente de asilo congolesa.
'Odisséia moderna terrível'
O acampamento temporário de Mavrovouni foi erguido às pressas depois que o amplo acampamento de Moria, o maior local do gênero na Europa na época, queimou no ano passado.
As autoridades gregas culparam um grupo de jovens afegãos pelo incidente e a segurança foi substancialmente reforçada para a visita do pontífice.
Em Chipre, onde o papa visitou antes da Grécia esta semana, as autoridades disseram que 50 migrantes serão realocados para a Itália graças a Francisco.
Veja Também Setenta migrantes estão desaparecidos há quatro dias no MediterrâneoAs autoridades gregas não descartaram a possibilidade de que alguns migrantes de Mavrovouni possam acompanhá-lo de volta à Itália.
Ele levou 12 refugiados sírios com ele durante sua última visita a Lesbos em 2016.
União Europeia 'dilacerada pelo egoísmo'
No início da sua visita a Atenas no sábado, Francisco disse "hoje, e não apenas na Europa, testemunhamos um retrocesso da democracia", alertando contra as "respostas fáceis do populismo".
Em 2016, Francisco visitou Moria com Bartolomeu I, o líder espiritual dos Cristãos Ortodoxos do mundo, e o Arcebispo Ieronymos II, chefe da Igreja da Grécia.
O campo de Mavrovouni actualmente acomoda 2.193 pessoas e tem capacidade para 8.000, disse um funcionário da unidade, nesta semana.
As autoridades insistem que os procedimentos de asilo e os tempos de processamento são mais rápidos.
Com fundos da União Europeia, a Grécia está a erguer uma série de instalações "fechadas" nas ilhas gregas com cercas de arame farpado, câmeras de vigilância, scanners de raios-X e portões magnéticos que são fechados à noite.
Três desses acampamentos foram abertos nas ilhas de Samos, Leros e Kos. Lesbos e Chios serão abertos no próximo ano.
Your browser doesn’t support HTML5
Quando os migrantes recebem asilo não são mais elegíveis a permanecer nos campos e muitos não conseguem encontrar acomodação ou trabalho, o que atrai críticas de ONGs e agências de ajuda humanitária.
Os grupos também levantaram preocupações sobre os novos acampamentos, argumentando que o movimentosdas pessoas não deveria ser restringido, bem como alegando que os oficiais da fronteira grega agiram contra os migrantes.
A Grécia nega veementemente as reivindicações, insistindo que a sua guarda costeira salva vidas no mar.
O papa voltou a Atenas após a visita e retornará a Roma na segunda-feira.