Meninas em todo o mundo viram as dificuldades que já enfrentavam exacerbadas pela pandemia do novo coronavírus, com forte impacto na áreas de educação, casamento infantil, violência doméstica e oportunidades económicas.
Assinala-se neste domingo, 11, o Dia Internacional das Meninas, criado em 2011 pela ONU que indica que no próximo ano, cerca de 435 milhões de mulheres e meninas viverão com menos de 1 dólar e 90 centavos por dia e que 47 milhões serão “empurradas para a pobreza como resultado da covid-19”.
A mesma fonte acrescenta que elas vão perder oportunidades de educação e empregos e ainda serão vítimas da violência.
Mesmo antes da pandemia, uma em cada três mulheres em todo o mundo havia sofrido violência física ou sexual.
“Dados recentes mostram que, desde a eclosão da covid-19, a violência contra mulheres e meninas, especialmente a violência doméstica, intensificou-se”, alerta a ONU.
Escravatura moderna
Grace Forrest, co-fundadora da organização contra a escravatura Walk Free, citada pela AP, indica que uma em cada 130 mulheres e raparigas está atualmente a viver numa situação de escravatura moderna".
A Walk Free define a escravatura moderna como “a supressão sistemática das liberdades de uma pessoa, em que uma pessoa é explorada por outra para benefício pessoal ou financeiro desta última”.
Casamento infantil
Lyric Thompson, especialista em políticas do Centro Internacional de Pesquisa sobre Mulheres com sede em Washington e que integra a liderança de “Meninas não noivas”, parte da coligação global que tenta impedir o casamento infantil, afirma que durante os tempos de crise o planeamento para combater “formas de violência de género, incluindo casamento infantil, são colocadas de lado. ”
Os casamentos infantis têm aumentado durante a pandemia porque o confinamento manteve as jovens fora da escola e, em alguns casos, ficaram em quartos próximos dos seus predadores sexuais.
Aquela ativista revela que a pandemia também fez com que as famílias tentassem colocar as filhas em lares economicamente mais estáveis para aliviar os os seus próprios encargos financeiros.
Estima-se que mais 500 mil meninas em todo o mundo correm o risco de serem forçadas ao casamento infantil em 2020 como resultado dos efeitos da covid-19, de acordo com um relatório da organização não governamental Save the Children.
Por exemplo, os campos de refugiados Rohingya em Bangladesh registarm um aumento de casamentos de crianças desde o início da pandemia.
Um residente num campo de refugiados disse ao serviço da VOA Bangladesh em condição de anonimato que “em alguns casos, as famílias vivem juntas em tendas repletas de pessoas e, para criar espaço, as filhas dele casaram-se antes de atingirem a idade adulta".
“Nenhum pai quer entregar sua filha nas mãos de outros, mas elas têm que se casar por causa das circunstâncias”, acrescenta.
Violência doméstica e sexual
Outras formas de violência contra meninas têm aumentado nas plataformas digitais em virtude de uma maior comunicação virtual.
Uma pesquisa recente da Plan International descobriu que 32 por cento das meninas indonésias sofreram violência nas redes sociais, enquanto 56 por cento testemunharam atos de violência.
Nenhum país está imune aos abusos.
Nos Estados Unidos, menores foram responsáveis por metade das ligações feitas em março para a Linha Nacional de Assaltos Sexuais, dirigida pela Rede de Raptos, Abusos e Incestos (RAINN), e “67 por cento das chamadas identificaram um membro da família como atacante sexual”.
Educação
A educação é outra área em que as meninas são vítimas devido à pandemia do novo coronavírus.
Uma pesquisa do Fundo Malala estima que 20 milhões de meninas em idade escolar podem nunca mais voltar para a sala de aula depois da crise.
O Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) indica num relatório que a escolarização das meninas é fundamental para o avanço da igualdade de género, mas alerta que, apesar do aumento em todos os níveis, “as meninas ainda têm mais probabilidade de sofrer exclusão do que os rapazes”, um resultado que é agravado pela atual pandemia.
Em todo o mundo, 132 milhões de meninas estão fora da escola, de acordo com a ONU, e uma em cada três meninas adolescentes das famílias mais pobres nunca foi à escola.