Separados por painéis de acrílico e uma distância de 3,5 metros para evitar contágio, os dois candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos, confrontaram-se no final da noite de quarta-feira, 7, num debate de 90 minutos, em que a pandemia do coronavírus serviu de ponta-de-lança do ataque à administração Trump.
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Ao contrário do primeiro debate presidencial, este foi marcado por uma atitude mais moderada dos participantes que, na maior parte do tempo, puderam expor pontos de vista sem interrupção, mas que analistas disseram de imediato que pouco ou nada trouxe de novo para as campanhas.
O vice-presidente Mike Pence e a candidata democrata a essa posição Kamala Harris, evitaram muitas vezes responder diretamente a perguntas postas pela moderadora e passaram para os seus temas de ataque, nomeadamente a questão da economia, no caso de Mike Pence, e d epidemia do coronavírus nos ataques de Kamala Harris.
“A resposta da Administração Trump à pandemia é o maior falhanço de qualquer presidência na nossa história”, disse Kamala Harris, quem acusou a Administração Trump de ter sido informada da gravidade da pandemia a 28 de Janeiro pelos serviços de inteligência americanos e nada ter feito para preparar o pais.
“Eles sabiam disso e esconderam-no e o Presidente Trump disse que era tudo mentira”, acusou Harris.
Pence respondeu afirmando que foi o Presidente Trump quem ordenou o cancelamento de todas as viagens de e para a China, o que evitou milhares de mortes.
“Biden opôs-se a isso e descreveu a decisão de histérica e xenófoba”, recordou Pence, quem afirmou depois que a Administração Trump tinha garantido “milhões de testes” e estava já a preparar “biliões de vacinas” .
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O tema das vacinas foi um dos controversos do debate quando Kamala Harris disse que "se for Donald Trump a dizer para as pessoas se vacinarem eu não me vacino”, o que levou o atual vice-presidente a acusá-la de estar a minar a confiança do público na saúde pública.
“O plano de Biden e Harris para combater a epidemia parece-me ser um plágio do nosso plano e plágio é algo que Joe Biden conhece um pouco“, atirou o vice-presidente em referência a acusações de que Joe Biden tinha plagiado políticos britânicos na década de 1980.
Pence rejeitou também acusações de que o Governo tinha contribuído para o aumento da epidemia quando o Presidente e membros da sua administração não usaram máscaras em público.
“Temos confiança no público americano de que fará uso correto da informação que está ao seu dispor”, reiterou o vice-presidente.
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Kamala Harris tentou reforçar ao longo do debate o ataque ao que disse ser a falta de confiança que se tem no Presidente, não só nos Estados Unidos como no estrangeiro.
Assim, a candidata democrata recordou as recentes revelações de que as companhias de Donald Trump devem cerca de 400 milhões de dólares e que o Presidente só pagou 750 dólares de impostos pessoais devido aos prejuízos das suas empresas
“A quem é que o Presidente deve esse dinheiro?”, interrogou Kamala Harris que mais tarde no debate acusou Trump de “atraiçoar os nossos amigos e abraçar ditadores em redor do mundo”.
Pence lembrou que a administração Trump tinha derrotado o Estado Islâmico na Síria, morto o seu líder, e levou os países membros da NATO a contribuírem mais para a defesa comum.
Para o vice-presidente a administração Trump acabou também com a desigualdade que existia nas relações comerciais com a China e acusou Biden de ter sempre defendido essas relações desiguais, mas Kamala Harris respondeu que os Estados Unidos "perderam essa guerra comercial”.
Veja Também EUA: Dez dias que abalaram as eleiçõesO principal ponto de ataque de Pence foi a economia avisando o eleitorado americano que uma Administração Biden/Harris irá aumentar os impostos e impor regulamentações ecológicas que irão destruir postos de trabalho e empresas.
Interrogado se acreditava que existem mudanças climáticas, Pence respondeu que “o clima está a mudar mas a questão por saber é o que causa isso e o que fazer”
Kamala Harris, por várias vezes, recusou-se a responder à pergunta sobre se Joe Biden tenciona aumentar o número de juizes no Supremo Tribunal para acabar com domínio dos conservadores, algo que Pence disse levará à destruição da separação do sistema judicial do Estado.
Eleições
Interrogada sobre o que faria se o Presidente Donald Trump se recusar a aceitar o resultado das eleições alegando fraude, Harris disse que a campanha de Joe Biden abrange não só democratas e independentes mas mesmo republicanos que não aceitam a liderança de Donald Trump.
“Não permitiremos que alguém tente subverter a nossa democracia", disse, ao que Mike Pence respondeu ser irónico ouvir o Partido Democrata dizer que quer proteger as eleições “quando esse partido passou os últimos três anos a tentar anular o resultado das últimas eleições”, numa referência à tentativa de impugnação do Presidente.
O debate foi moderado por Susan Page, chefe da delegação em Washington do jornal USA Today, que escolheu ela própria os temas que foram discutidos em segmentos de 10 minutos cada.
Em termos genéricos, os debates entre os candidatos à vice-presidência são de menor importância, como aliás atesta o fato de estar programado apenas um nesta campanha eleitoral.
Entretanto, tendo em conta a idade dos candidatos à Presidência, Trump, de 74 anos, e Biden, de 77, o debate de ontem à noite assumiu a característica de servir para testar dois políticos que poderão estar – como se diz na gíria política americana – “à distância de apenas um bater de coração” da Presidência durante os próximos quatro anos.
Para além disso, é uma tradição política americana que os vice-presidentes concorram às eleições logo que o mandato presidencial termine.
No caso de Biden vencer as eleições é difícil vê-lo como candidato a reeleição em 2024 com 81 anos e Trump mesmo que vença estará no seu último mandato permitido por lei, pelo que tanto Pence como Harris entraram para o debate cientes de que uma vitória nestas presidenciais abre as portas para uma possível corrida no futuro à Casa Branca.
É pouco provável que este debate, que serviu essencialmente para os dois intervenientes reafirmarem posições já conhecidas, venha a ter impacto na opinião do eleitorado que, de acordo com as sondagens, parece estar a dar um apoio cada vez crescente a Joe Biden.