No extenso bairro de lata do outrora glorioso Grande Hotel, na cidade da Beira, em Moçambique, cerca de 4.000 pessoas que vivem na miséria esperam que as eleições deste mês tragam mudanças às suas vidas difíceis.
A maior parte dos cartazes eleitorais espalhados pelas paredes enegrecidas do edifício destruído à beira-mar apela ao voto no partido Frelimo, há muito no poder.
Alguns apoiam o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), de centro-direita e na oposição, que tem dirigido o município da Beira nos últimos 20 anos.
Os resultados deverão ser conhecidos dentro de mais de uma semana.
O hotel, com vistas deslumbrantes sobre o Oceano Índico, reflete o desespero de Moçambique, onde cerca de 75 por cento dos 33 milhões de habitantes vivem na pobreza e as feridas de uma guerra civil de 16 anos ainda estão a ser desfeitas.
As suas paredes em ruínas estão marcadas com graffiti, os móveis, as janelas e as instalações desapareceram há muito, enquanto a relva cresce na sua piscina olímpica a poucos passos do mar.
As pessoas que se instalaram aqui estão desesperadas por uma vida melhor.
“Vivemos na sombra do que este lugar já foi”, diz Toris Anselmo, na casa dos 30 anos, que viveu nas ruínas do hotel durante a maior parte da sua vida.
“Há anos que estamos à espera de mudanças. Espero que esta eleição traga melhores oportunidades para todos nós", acrescentou.
O hotel e a sua grande escadaria foram construídos em estilo Art Déco nos anos de 1950, quando Moçambique ainda era uma colónia de Portugal.
O estabelecimento foi abandonado pelos seus proprietários em 1974, com a saída dos portugueses, após 10 anos de guerra liderada pela Frelimo.
Nos seus espaços sobrelotados, as tensões entre os residentes são elevadas e os sistemas de segurança improvisados reflectem a ameaça de roubo sempre presente.
Precisamos de casas
Elaria Ribeiro Punte, 56 anos, que deu à luz todos os seus três filhos no local, diz que se debate com a vida quotidiana nos espaços exíguos do edifício.
“É difícil criar os meus filhos nestas condições, mas sobrevivemos. Precisamos de habitação adequada, não apenas de promessas”, disse ela.
Cada canto tem um objetivo: as pessoas vivem na cave, em antigas câmaras frigoríficas ou em velhos poços de elevador.
As mulheres limpam o peixe ou descansam nos corredores e tiram água da piscina estagnada.
Cortinas finas dividem os quartos, transformando os espaços em cozinhas e áreas de estar improvisadas.
Fernando José, 37 anos, nasceu no hotel e agora cria a sua própria família no hotel.
“Tenho mulher e filho, mas não tenho muito para mostrar”, diz, acrescentando que "os empregos são escassos e há pouco apoio".
"Esperamos que esta votação conduza a uma mudança", afirmou.
A guerra civil, que eclodiu após a independência, causou cerca de um milhão de mortes e deslocou milhões de pessoas, algumas das quais procuraram refúgio na Beira, uma das maiores cidades de Moçambique a cerca de 700 quilómetros a nordeste da capital, Maputo.
O Governo da Frelimo, logo após a Independência, usou o hotel como base militar quando foi arrastado para a guerra civil pela Renamo, que na altura era um movimento de guerrilha.
A nível oficial, o conflito armado que terminou a 2019, continua a ensombrar Moçambique, enquanto os ataques jihadistas em Cabo Delgado arruinaram as esperanças de um lucro inesperado com a descoberta de vastos depósitos de gás em 2010.
Hasanido Arcancu, um adolescente entusiasta de futebol que vive entre as ruínas do Grande Hotel, sonha com uma vida mais brilhante como jogador profissional.
“Adoro futebol, mas não temos sítio para treinar. Talvez um dia jogue numa grande equipa e deixe este lugar para trás”, afirmou esperançoso.