A guerra de África ou a guerra colonial, na versão dos portugueses de diferentes quadrantes, ou a guerra de libertação, na descrição dos africanos independentistas, opôs durante mais de uma década forças governamentais portuguesas e forças militares dos movimentos de libertação naquelas que eram conhecidas por províncias ultramarinas, como Angola.
Numa altura em que a comunidade internacional avançava com a agenda da descolonização em África, Salazar aferrava-se ao lema “orgulhosamente sós” e enviava mais efectivos militares para as colónias, para combater ao lado de unidades de militares africanos.
A guerra terminaria com a revolução de 25 de Abril em Portugal levada a cabo por uma nova geração de militares de média e baixa patente formada e criada na guerra, e que tinha no seu plano a vontade de dar a independência às colonias.
Em Angola, o início da luta armada pela independência foi marcado por dois acontecimentos: a revolta da União das Populações de Angola (UPA), que mais tarde passaria a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), e o ataque do MPLA ao estabelecimento de reclusão militar, quartel da PSP e à delegação da emissora nacional em Luanda.
O brigadeiro Manuel Correia de Barros, que cumpriu o serviço militar obrigatório do regime colonial em Angola onde foi ferido em combate, diz que os movimentos de libertação sempre tentaram obter a independência de forma pacifica, mas que ao não se entenderem entre si prolongaram a guerra pré-independência.
“Em Angola sempre houve tentativas dos movimentos de libertação de resolver o problema da colónia de forma pacífica”, afirma Correia de Barros como noutras colónias de outros países, que estavam a ser colonizados por países como a França e a Inglaterra.
Entretanto, o regime ditatorial que existia em Portugal não permitia.
“Deixaram as coisas correr até que os movimentos tiveram mesmo que ir para a guerra. Não havia outra solução”. nota o brigadeiro.
A guerra começou em 1961 e terminou em 1974, na sequência da Revolução do 25 de Abril.
"Apesar de algumas tentativas do novo regime (de) manter não direi em todas as antigas colónias, mas pelo menos em Angola, manter uma situação que durasse… isso não foi avante. E entretanto criou-se a situação que permitiu a independência de Angola", lembra Correia de Barros.
Ao contrário das outras então colónias, a de Angola contava com mais de que um movimento de libertação.
“Os movimentos não se entendiam” o que, sublinha o brigadeiro Correia de Barros,“foi aproveitado pelos portugueses para aquilo que se chama dividir para reinar, e não foi possível resolver o problema da melhor maneira porque se se tivessem todos de acordo as coisas teriam durado menos tempo e teríamos chegado a uma situação bastante mais folgada na altura da independência”.
Manuel Correia de Barros, que se destacou como analista de sistemas, acabaria por ficar em Angola, onde se naturalizou e aderiu ao braço armado do MPLA, as extintas FAPLA.
O analista Assis Malaquias, do Centro de África para Estudos Estratégicos, explica os factores que conduziram à insatisfação do povo angolano e consequente luta pela independência, descrevendo a sociedade do território de Angola como estratificada com uma minoria que controlava o poder e uma maioria sem voto na matéria.
A Igreja Católica, como agente importante e de peso na sociedade angolana, também teve o seu papel antes e no surgimento da luta pela independência.
Para o professor universitário e analista polítcico Nélson Pestana Bonavena, "habia uma Igreja claramente defensora e próxima do poder colonial português, basta lembrar que Salazar e o cardeal Cerejeira foram os responsáveis pela Concordata de década de 1940, mas é também no seio na Igreja Católica que se emergem os primeiros sinais do movimento nacionalista".
Bonavena reitera ter havido uma igreja que "tentou conciliar uma teoria de libertação".
Aquele cientista político conclui dizendo que tanto no seio da Igreja Católica como no de algunas igrejas protestantes, "houver sempre alguns que se compactuavam com o poder e outros que, como os católicos e metodistas, que se opuseram ao fascismo e se engajaram na luta pela independência.
O jornalista e historiador angolano José Goncalves, nota que quando se deu o golpe de Estado em Portugal, a guerra de libertação em Angola era de "muito baixa intensidade", mas ao mesmo tempo começavam a surgir grupos clandestinos que poderiam lançar iniciativas armadas nas cidades.
“O contexto em 1974 era de confrontos de muito baixa intensidade e até nem sei se houve algum choque no mês de Abril de 1974”, disse Gonçalves que recordou que “a guerra em Angola começou com muita intensidade em 1961” talvez demasiado alta.
“As forças nacionalistas não tinham logística para manter esse nível inicial muito alto e caiu bastante para subir de novo em 1969 no leste do país, depois de receber os primeiros apoio da Zâmbia”, recordou o historiador para quem a abertura dessa frente no leste “foi o grande problema” de então.
“Escolheu-se uma zona de combate que era favorável à repressão, uma zona onde não foi possível a dissimulação, o que é fundamental na guerra assimétrica”, sublinhou.
Na altura, contudo, formavam-se grupos clandestinos “expontâneos ou que se simpatizavam com grupos no exterior e a partir daí iam necessariamente surgir iniciativas armadas", explica Gonçalves.
O historiador angolano disse que quando se dá o golpe de Estado em Portugal, havia uma situação de contenção da guerra de guerrilhas.
Entretanto, explica que “graças ao grande apoio popular e à própria forma como se comportavam as autoridades coloniais", havia receios de que surgissem explosões em centros urbanos importantes, ao contrário da Guiné-Bissau e Moçambique, onde a guerrilha estava a ter um sucesso não existente em Angola.
Jonas Manuel Chissapa é um veterano de guerra que antes da independência combateu ao lado das forças da Unita.
Tinha 19 anos quando aderiu à causa da independência.
Nascido no Bié, Jonas Manuel Chissapa combateu no Leste, nas Lundas.
Hoje, na reforma com a patente de tenente-coronel, afirma que a guerra tinha que ser feita apesar das forcas colonias terem meios aéreos que podiam exterminar as forças militares dos movimentos de libertação.