Angola vai assumir a Presidência da União Africana (UA) a partir de fevereiro 2025 e para preparar o mandato o Chefe de Estado criou um grupo de trabalho interministerial.
Com a alta aposta de João Lourenço na liderança da UA, especialistas mostram-se divididos quanto a eventuais ganhos para o país.
Your browser doesn’t support HTML5
O grupo é coordenado pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, que tem como coordenador adjunto o ministro da Defesa Dacional, João Ernesto dos Santos “Liberdade”.
No decreto presidencial de 4 de novembro que criou o grupo, Lourenço olha para a UA como uma oportunidade de promoção da unidade, solidariedade e progresso do continente e a liderança do país a partir do próximo ano deve servir para reforçar estes princípios, promovendo ações concretas para a paz, segurança e desenvolvimento de África.
Veja Também RDC: Mediação de João Lourenço sem resultadosEmilia Goreth Pinto, professora e especialista em relações internacionais, entende que “a Presidência de Angola irá contribuir para o trabalho que tem sido desenvolvido (pelo Governo) para melhorar a sua imagem e sua influência no continente, uma vez que o país tem trabalhado em dossiers muito importantes”.
Ela aponta avanços a nível interno no setor financeiro e na integração regional.
Pinto esta acrescenta, no entanto, que esta pode ser uma oportunidade para Angola sublinhar a importância que pode ter o corredor do Lobito na integração de importantes economias do continente.
Veja Também Lourenço pede promoção da cultura da paz e fim dos conflitos em ÁfricaQuanto à situação na República Democrática do Congo (RDC), que tem merecido a mediação de Angola, aquela especialista em relações internacionais diz que “isto não deve ser um trabalho apenas de Angola, e que o país devia aproveitar a Presidência da União Africana para sensibilizar o maior número de Estados africanos possível para abraçarem esta causa, não como uma missão apenas de Angola, mas do continente porque é uma questão de segurança do continente".
Entendimento diferente tem Osvaldo Caholo, que durante muito tempo lecionou a cadeira de relações internacionais africanas.
Veja Também Lourenço diz que conflitos em África não podem ser tratados de forma diferente dos da Europa"Temos que distinguir ganhos para o MPLA e ganhos para os cidadãos angolanos, o MPLA tem tido mãos em tudo quanto é manutenção de regimes opressores em África, isto falo na minha condição de militar, nós já fomos buscar o senhor Kabila, na Tanzânia, para ir ser empossado como Presidente na RDC, mas para o povo angolano eu não vejo ganhos nenhuns, agora para o partido no poder sim porque reforça a sua influência e poder em África", afirma.
Quanto à mediação de conflitos como o da RDC, Caholo sustenta que Angola “não tem moral para dar lição a nenhum Estado africano, e, por exemplo, se Angola assumir a liderançada UA a Frelimo em Moçambique tem já garantido o seu apoio de Angola para a sua permanência no poder, e todos os governos autocráticos e totalitários africanos".
O grupo de trabalho interministerial, de acordo com o decreto presidencial, tem a missão de elaborar uma nota conceptual detalhada sobre a estratégia da presidência angolana, focada no tema escolhido, em articulação com o da União Africana “Justiça para os africanos e os afrodescendentes por meio de indemnizações”, assim como contemplar a perspetiva sobre “infra-estruturas, fator de desenvolvimento de África”.
De igual modo, é tarefa do grupo elaborar o plano de tarefas, cronograma de atividades, o orçamento para a implementação destes instrumentos, organizar, coordenar, executar e monitorar as tarefas inerentes ao mandato de Angola junto da União Africana, enquanto Presidente da organização continental.