Os desafios de Angola na liderança da União Africana em 2025

João Lourenço, Presidente de Angola, apresenta mensagem de Ano Novo, Luanda, 29 dezembro 2023

Analistas em relações internacionais estão divididos sobre os ganhos e desemprenho da Presidência angolana

Angola vai assumir a Presidência da União Africana (UA) a partir de fevereiro 2025 e para preparar o mandato o Chefe de Estado criou um grupo de trabalho interministerial.

Com a alta aposta de João Lourenço na liderança da UA, especialistas mostram-se divididos quanto a eventuais ganhos para o país.

Your browser doesn’t support HTML5

Os desafios de Angola na liderança da União Africana em 2025

O grupo é coordenado pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, que tem como coordenador adjunto o ministro da Defesa Dacional, João Ernesto dos Santos “Liberdade”.

No decreto presidencial de 4 de novembro que criou o grupo, Lourenço olha para a UA como uma oportunidade de promoção da unidade, solidariedade e progresso do continente e a liderança do país a partir do próximo ano deve servir para reforçar estes princípios, promovendo ações concretas para a paz, segurança e desenvolvimento de África.

Veja Também RDC: Mediação de João Lourenço sem resultados

Emilia Goreth Pinto, professora e especialista em relações internacionais, entende que “a Presidência de Angola irá contribuir para o trabalho que tem sido desenvolvido (pelo Governo) para melhorar a sua imagem e sua influência no continente, uma vez que o país tem trabalhado em dossiers muito importantes”.

Ela aponta avanços a nível interno no setor financeiro e na integração regional.

Pinto esta acrescenta, no entanto, que esta pode ser uma oportunidade para Angola sublinhar a importância que pode ter o corredor do Lobito na integração de importantes economias do continente.

Veja Também Lourenço pede promoção da cultura da paz e fim dos conflitos em África

Quanto à situação na República Democrática do Congo (RDC), que tem merecido a mediação de Angola, aquela especialista em relações internacionais diz que “isto não deve ser um trabalho apenas de Angola, e que o país devia aproveitar a Presidência da União Africana para sensibilizar o maior número de Estados africanos possível para abraçarem esta causa, não como uma missão apenas de Angola, mas do continente porque é uma questão de segurança do continente".

Entendimento diferente tem Osvaldo Caholo, que durante muito tempo lecionou a cadeira de relações internacionais africanas.

Veja Também Lourenço diz que conflitos em África não podem ser tratados de forma diferente dos da Europa

"Temos que distinguir ganhos para o MPLA e ganhos para os cidadãos angolanos, o MPLA tem tido mãos em tudo quanto é manutenção de regimes opressores em África, isto falo na minha condição de militar, nós já fomos buscar o senhor Kabila, na Tanzânia, para ir ser empossado como Presidente na RDC, mas para o povo angolano eu não vejo ganhos nenhuns, agora para o partido no poder sim porque reforça a sua influência e poder em África", afirma.

Quanto à mediação de conflitos como o da RDC, Caholo sustenta que Angola “não tem moral para dar lição a nenhum Estado africano, e, por exemplo, se Angola assumir a liderançada UA a Frelimo em Moçambique tem já garantido o seu apoio de Angola para a sua permanência no poder, e todos os governos autocráticos e totalitários africanos".

O grupo de trabalho interministerial, de acordo com o decreto presidencial, tem a missão de elaborar uma nota conceptual detalhada sobre a estratégia da presidência angolana, focada no tema escolhido, em articulação com o da União Africana “Justiça para os africanos e os afrodescendentes por meio de indemnizações”, assim como contemplar a perspetiva sobre “infra-estruturas, fator de desenvolvimento de África”.

De igual modo, é tarefa do grupo elaborar o plano de tarefas, cronograma de atividades, o orçamento para a implementação destes instrumentos, organizar, coordenar, executar e monitorar as tarefas inerentes ao mandato de Angola junto da União Africana, enquanto Presidente da organização continental.