O livro do professor universitário angolano Domingos da Cruz “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura – Filosofia Política da Libertação de Angola” vai ser publicado na internet pelo jornalista e activista Rafael Marques.
A obra ainda não dada à estampa esteve na origem da prisão dos 15 activistas detidos a 20 de Junho, quando participavam num seminário que tinha como base de trabalho o livro de Cruz.
Desde então Domingos da Cruz encontra-se preso, juntamente com Luaty Beitão, Nito Alves, Albano Bingobingo e demais activistas conhecidos por revús. O julgamento começa a 16 de Novembro.
Rafael Marques revelou à agência Lusa que vai divulgar através da internet o livro, que serve de base à Procuradoria Geral da República para acusar os activistas de rebelião e tentativa de golpe de Estado.
Na obra “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura – Filosofia Política da Libertação de Angola”, o autor defende ideias não-violentas como meios para a mudança de regime e recusa golpes de Estado militares, apesar de recomnhecer que frequentemente os povos oprimidos solicitam a intervenção do exército.
Cruz defende que o “mais provável” é que o golpe de Estado militar conduza à instituição de uma nova ditadura, porque deixam de ter controlo do poder devido à destituição de todos os cargos civis anteriormente existentes.
“No contexto de Angola, um golpe de Estado vindo do Exército, colocará as Forças Armadas Angolanas em guerra contra a Guarda Presidencial, em oposição à Polícia de Intervenção Rápida e ainda contra o Exército paralelo que o ditador criou e o instalou no Kuando Kubango a cinco quilómetros de Menongue e que está sob a responsabilidade do general-governador do Kuanza-Sul, Eusébio de Brito Teixeira", escreve o professor.
Em 2014, Domingos da Cruz deu à estampa a obra “África e Direitos Humanos”, em que reúne artigos de mais de 20 pesquisadores que se preocupam com a situação dos direitos do homem no continente.
Em 2013, ele reeditou a obra "Quando a Guerra é Necessária e Urgente", que o levou a ser processado, tendo sido absolvido por falta de provas.
A 4 de Julho de 2014, no programa Angola Fala Só, da VOA, Domingos da Cruz descreveu Angola como um país que é só democrático na teoria, no papel, “mas autoritário a caminhar para o totalitarismo”, em que o povo não é chamado a participar, o que só acontece num Estado democrático e de direito.
Em Angola, frisou, a realidade é outra, tendo feito notar que os angolanos não devem esperar que outros os defendam, mas que devem exercer o seu direito de cidadania.
Sobre a possibilidade da oposição se unir, Domingos da Cruz revelou dúvidas: ”Não acredito que a oposição seja capaz de unir-se porque ela é mais ou menos similar ao regime poder, a diferença é que uns detêm o poder político, ou seja os governantes, e a oposição é uma farsa na verdade porque a maior parte das pessoas que estão na oposição não são pessoas eticamente correctas”.
Na altura, Cruz considerou que a prisão do seu agora colega de cadeia Nito Alves disse ter sido muito mal gerida, e que o caso demonstrava uma “falta de inteligência de quem está a governar”.
Oiça as declarações de Domingos da Cruz no Angola Fala Só, a 4 de Julho de 2014.
Your browser doesn’t support HTML5