“O que tem de errado com os líderes africanos?", indaga empresário angolano

  • Danielle Stescki

Daniel Pires, promotor cultural e empreendedor

João Lourenço tomou posse como Presidente de Angola em Setembro de 2017 e abriu caminho para os angolanos sonharem com o mais alto posto do Governo.

Sonhar é apenas o primeiro passo, mas o que muitos jovens angolanos querem realmente é fazer a diferenca, dar o seu contributo, fazer de Angola um país com uma economia forte, com geração de empregos, com oportunidades para todos, deficientes ou não.

Em entrevista à Voz da América, o empreendedor e promotor cultural Daniel Pires falou sobre a sua vida professional e as ideias que tem para Angola.

Ele sabe da importância de motivar a juventude, de se envolver na comunidade e como a acção de cada um pode afectar a vida de muitas pessoas, seja de forma direta ou indireta.

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Entrevista com Daniel Pires

Quando era mais jovem, sonhava em ser Presidente. Embora tenha seguido o ramo empresarial e não esteja ligado a nenhum partido, Pires não nega que em um futuro próximo isso possa mudar. No entanto, gostaria mais de criar um movimento do que entrar para um partido tradicional.

“O país precisa de novas ideias. Precisa de jovens a fazer coisas novas. Cingir-se a um partido estaria a não fazer uma coisa nova".

O empresário criticou a forma de como a reconstrução do seu país está sendo feita e como as soluções são temporárias e ineficazes.

“O povo reclama desde a independência até hoje das mesmas coisas. E eu me pergunto: o que há de errado com os líderes africanos?”

Pires acredita que Angola só vai melhorar quando houver uma mudança de mentalidade e quando passar a investir na reconstrução social, nas ideias humanas e na formação do homem.

“Se o homem não tem conhecimento, ele não consegue falar. Hoje temos muitos jovens formados, idealistas, muitos jovems no ramo empresarial, mas não são sucessos e não contribuem de forma alguma para o país.”

Isso porque não estão a trabalhar no que se especializaram, pois não havia oportunidades de empregos no sector público e nem no sector privado.

Uma das ideias que o empreendedor destacou é a necessidade de se ter um líder, ao invés de um governante. O líder conhece a comunidade e as necessidades dos cidadãos, envolve-se, fiscaliza e viaja.

“Precisamos ter conciência de que o país precisa disso. Não estou a falar do Presidente X ou Y”.

Pires acredita que algo só irá mudar em Angola se todos os partidos forem envolvidos no processo.

“A Assembleia Nacional está dividida em vários partidos. Será que temos esses partidos a liderar uma província? Será que temos um desses partidos em um departamento de chefia em Angola? Acho que isso ajudaria muito.”

E acrescentou: “Não importa o partido ao qual pertençamos, somos todos angolanos. Todos temos voz e podemos contribuir com as nossas opiniões. Se eu fosse Presidente da República, construiria um governo com esse princípio.”

Sobre a descentralização de Luanda, Daniel Pires acredita que seja fundamental para o desenvolvimento do país que isso ocorra, e sugeriu que as províncias de Benguela, Huambo, Cabinda e Huíla poderiam ter as principais capitais de Angola.

“A cidade política é Luanda. A cidade económica é Luanda. A cidade académica é Luanda, e não só. Descentralizar seria a base para que a comunidade pudesse sentir a proximidade do Governo”.

No que toca à geração de empregos, o empresário lembrou o discurso de posse do Presidente João Lourenço, que disse que até o final do seu mandato poderá criar 500 mil empregos.

Pires disse que ainda não viu muita diferença e explicou que há milhares de jovens com ensino superior completo que estão desempregados ou que mudaram de ramo porque não havia oportunidades.

"Eu sou jovem. Eu trabalho por conta própria. Desenvolvo as minhas ideias todos os dias. Um dos meus objectivos é crescer e ajudar muito na construção do país e dar oportunidades de emprego."

Falando sobre oportunidades para pessoas com deficiência, ele simplesmente disse que este assunto é um caos em Angola.

"Isso dói tanto porque muitas pessoas com deficiências são altamente inteligentes. São pessoas conhecedoras porque têm tempo suficiente para pesquisar e desenvolver as ideias, mas é difícil terem oportunidade de emprego".

Mas para o empresário o positivo acima de tudo isso "é caminharmos passo a passo" e "fazer agora".

Pires mencionou a debilidade económica que ainda existe no mercado empresarial. "Os empresários estão cada vez mais apertados...nos impostos, nas alfândegas."

Ele concluiu a entrevista lançando um apelo ao Governo actual para que dê aos angolanos a oportunidade de falar, expressar os sentimentos, trabalhar, estudar, construir ideias e serem livres.

"Acredito que isso não é pedir muito".