Um novo surto de cólera foi decretado em três distritos da província moçambicana de Tete, onde as autoridades sanitárias confirmaram 45 novos casos da doença nas últimas 24 horas e cinco óbitos nos últimos 15 dias.
Esta situação levou as autoridades a reforçarem o controlo na fronteira com o Zimbabwe e Malawi.
O ressurgimento da doença continua ligada ao recorrente consumo de água imprópria, proveniente de rios e poços tradicionais, disse à Voz da América nesta segunda-feira, 1, uma fonte hospitalar.
O boletim diário sobre a propagação da doença indica que o atual surto de cólera decretado a 27 de setembro, tem um cumulativo de 566 casos, estando 282 pacientes internados em três centros de tratamento da doença, sendo a situação do distrito de Zumbu a mais “preocupante e grave”.
Maria João, médica dos serviços provinciais de Saúde de Tete, revelou que o distrito de Zumbu, que decretou o surto de cólera na semana passada, regista uma propagação rápida, por a população depender da única fonte, que se suspeita contaminada, devido à escassez de água por falta de chuva.
“Por agora, o distrito de preocupação é Zumbo, que decretou o surto na semana passada, na sede distrital. A situação lá é preocupante, temos em media 25 entrados por dia, já tivemos óbitos”, destacou Maria João, realçando que nos três distritos com surto – Moatize, Macanga e Zumbu – a doença esta a ser propagada por consumo de água imprópria.
“As causas são o consumo de água imprópria. A qualidade da água que está a ser consumida não é uma água apropriada para o consumo”, afirmou.
Controlo fronteiriço
A província de Tete, que já tinha sido devastada por um surto de cólera no inicio do ano, continua a fazer vigilância da doença nos postos fronteiriços com o Zimbabwe e Malawi, que está a enfrentar o surto de cólera mais mortal da sua história.
Your browser doesn’t support HTML5
Moçambique sofre com diversos surtos de cólera que já afetam várias regiões, com casos confirmados em 38 distritos de sete províncias, onde os casos quase quadruplicaram desde fevereiro, agravados com eventos extremos resultantes das mudanças climáticas.
Até 14 de Setembro Moçambique tinha um cumulativo de 33.821 casos de cólera, que provocaram a morte de 141 pessoas, sendo que o maior número de vitimas foi registado nas províncias da Zambézia (38 mortos), Sofala (30 mortos) e Niassa (25 mortos).
Ameaça pública
Faquir Calú, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS), enfatizou que a cólera continua a ser um problema de saúde publica grave para Moçambique, devido às precárias condições sociais e de higiene da população, que continua com limitado acesso a água potável.
“Esta doença pode levar rapidamente à morte se não for tratada por pessoal técnico de saúde”, frisou Faquir Calú, anotando que o acesso a infraestruturas e serviços básicos por parte da população poderia evitar o pior.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, situação que agrava a resistência de infraestruturas e serviços que permitam evitar a doença.
Em Maio, a OMS alertou que o mundo terá um défice de vacinas contra a cólera até 2025 e que mil milhões de pessoas de 43 países correm o risco de serem infetadas com a doença.