O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido no Parlamento, classifica de contra-senso a posição de algumas entidades oficiais que questionam a existência de vala comum em virtude do número de corpos encontrados e de os mesmos terem sido enterrados.
A discussão sobre o tema, aliás, consumiu boa parte da reunião de segunda-feira, 30, na Beira em que a Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade da Assembleia da República, que investiga as denúncias de valas comuns, ouviu vários jornalistas que estiveram no local.
"Negar que não há vala comum é um contra-senso, pois, onde houver mais que dois corpos é vala comum ou se trata de massacre", diz Daviz Simango, presidente do MDM em nota enviada às redacções e na qual refere ao conceito das Nações Unidas.
Para Simango, “outra mentira monumental foi terem dito que os corpos foram enterrados”, porque, continua, “testemunhas oculares desmentem esta versão e dizem que deitaram por cima dos corpos um bocado de areia, deixando várias partes dos corpos descobertos e ao alcance de abutres e de outros animais".
"Reafirmamos que não houve nenhum enterro digno nem condigno dos corpos. Isso permite concluir que as autoridades moçambicanas nem aos mortos respeitam", revela Simango, lembrando que nenhuma autoridade religiosa ou mesmo tradicional “presenciou os supostos enterros”.
O MDM afirma na nota que as autoridades estão a colocar em causa a liberdade de imprensa por alegadamente ameaçarem jornalistas que relataram a existência de corpos abandonados no centro do país.
A reacção do MDM surge depois de várias autoridades moçambicanas terem colocado em dúvida a existência de valas comuns porque, para elas, os corpos teriam de estar num local, a descoberto e sem qualquer tipo de enterro.
"Estas informações são infundadas, uma pura mentira, mas têm objetivos inconfessáveis e de que nós nos distanciamos completamente", disse ontem a governadora de Sofala, onde se situa o distrito de Gorongosa, Helena Taipo à Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade da Assembleia da República.
Denúncias
A denúncia da existência de uma vala comum na zona 76, no posto administrativo de Canda, interior da Gorongosa, foi feita por camponeses a 27 de Abril.
As mesmas fontes disseram que vários corpos, alguns já em ossadas, estavam estatelados numa antiga escavação a céu aberto, de onde se extraía saibro para as obras de reabilitação da N1, a principal estrada de Moçambique.
Na sexta-feira, 29 de Abril, o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) Inácio Dina afirmou ter enviado uma equipa ao local que não encontrou qualquer vala comum.
No fim de semana seguinte, um grupo de quatro jornalistas deslocou-se ao local mas não conseguiu chegar à zona indicada pelos camponeses por estar bloqueada por forças da polícia e da segurança.
Entretanto, os repórteres encontraram e fotografaram cerca de 15 corpos já em decomposição nas imediações do local.
Uma equipa do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) também deslocou-se ao local e, de acordo como seu presidente Daviz Simango, não conseguiu chegar ao local devido à forte presença policial e militar.
Simango, que disse ter ficado chocado com as fotos, pediu uma investigação às denúncias.
A polícia reiterou não ter encontrado qualquer vala comum.
ONU e HRW querem investigar
No dia 4 de Maio o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR, em inglês) disse à VOA por email estar em contacto com as autoridades moçambicanas depois de ter recebido alegações sobre uma vala comum em Gorongosa.
“Temos, de facto, recebido alegações sobre uma vala comum na Gorongosa, no entanto, ainda não pudemos verificar essas alegações por falta de acesso ao local”, disse aquele órgão com sede em Genebra que solicitou o acesso à área onde foi denunciada a existência da vala comum.
Também a Human Right Watch manifestou o seu interesse em investigar as denúncias e a Liga Moçambicano dos Direitos Humanos diz ter provas da existência de corpos nos locais citados pelos jornalistas.