Pelo menos 200 milhões de mulheres em 30 países foram sujeitas à mutilação genital, uma prática dolorosa que a ONU diz estar profundamente enraizada na tradição de algumas culturas.
Cerca de metade dessas mulheres são do Egipto, Somália e Etiópia.
Entretanto, na Etiópia, uma organização revela ter alcançado enormes sucessos em erradicar a prática levando as comunidades a aceitarem isso como parte das suas próprias decisões.
A KMG começou em 1998 a educar as pessoas sobre os efeitos negativos da mutilação genital feminina na região de Kembatta Tembaro, no sul da Etiópia.
Inicialmente, grande parte da população local mostrou-se antagónica à ideia de acabar com a prática afirmando ser parte da cultura e não ser algo que pudesse causar danos físicos.
Na verdade, a mutilação genital pode causar hemorragias, cicatrizes, infecções e, sempre, em grante trauma psicológico.
A prática pode também causar problemas no parto e foi apenas ao fim de quatro anos que a comunidade em Kembatta começou a mudar.
A KMG arrancou com o que chama de “conversas da comunidade” e nas quais participam grupos de 50 pessoas de todos os sectores sociais e faixas etárias: homens e mulheres, jovens e velhos.
As discussões são levadas a cabo até se alcançar um consenso.
Quando a KMG iniciou os seus trabalhos, conceitos como direitos da mulher eram abstractos para pessoas afectadas pela pobreza, pelo que as discussões envolviam inicialmente questões práticas como a reparação de pontes e crise do SIDA.
Com o tempo, a questão da mutilação genital começou a ser debatida e desde que a organização começou a operar a prevalência da mutilação genital femininas caiu de 74 por cento, há mais de uma década, para 65 por cento.
A KMG foi fundada por Bogaleth Gebre que cresceu na região de Kembatta Tembaro e que foi ela própria alvo de mutilação genital.
Durante a sua infância, raparigas não iam à escola, mas ela estudou biologia em universidades de Israel dos Estados Unidos com uma bolsa de estudos.
Gebre, de 63 anos de idade, disse que incluir as comunidades em conversas e deixá-las chegar às suas próprias conclusões foi algo vital para se mudar práticas muito enraizadas.
“Nós não ditamos, limitamo-nos a discutir. Facilitamos a conversa permitindo que todos falem. Nessa conversa ninguém está errado, ninguém tem razão, ninguém sabe mais do que os outros. Todos os que falam no grupo têm valor. Não se passam julgamentos de valores. Isso coloca as pessoas mais à vontade para falarem. Pela primeira vez, as mulheres aprendem que têm algo de valor e que as pessoas ouvem”, disse Gebre.
Aquela responsável condiera que as pessoas ganharam assim consciência dos perigos da mutilação genital e aprenderam também que não há qualquer base religiosa na Bíblia ou no Corão para a prática.
Essas ideias foram aceites pela geração mais jovem de mulheres e homens e muitos recordam como gradualmente foi aceite colocar um fim à prática.
Hoje, a KMG já expandiu o seu trabalho a regiões vizinhas de Kembatta.
Cerca de quatro milhões de pessoas beneficiam do trabalho da KMG e milhares de mulheres etíopes foram salvas da prática.