Mulheres na Guiné-Bissau: Um sonho de Amílcar Cabral ainda por realizar

Mulheres no mercado de Bandim, Bissau, 13 abril 2014 Guiné-Bissau

"Até 1980 as mulheres tinham um papel importante na sociedade, mas, depois na democracia, as mulheres guineenses voltaram para o segundo plano”, diz combatente da liberdade da pátria.

No momento em que a Guiné-Bissau celebra os 50 anos da Independência Nacional, o papel das mulheres na economia, nos setores sociais e na política é revisitado.

Enquanto uma ativista e advogada considera que as mulheres se sentem prejudicadas nos seus direitos devido à falta de liderança política sensível, uma combatente da liberdade da pátria fala num recuo no reconhecimento das mulheres.

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Mulheres na Guiné-Bissau: Um sonho de Amílcar Cabral ainda por realizar

Binto Nanque, antiga combatente da liberdade da pátria, esteve na luta amada pela independência da Guiné e Cabo Verde e recorda a importância dada, na altura, às mulheres.

“Por exemplo, 90 por cento do pessoal de saúde eram enfermeiras. A ideia de Amílcar Cabral era a emancipação das mulheres na sociedade moderna porque durante a colonização portuguesa as mulheres guineenses não tinham escola. As que tinham não iam além da secundária. Então, Cabral viu que as mulheres tinham os mesmos direitos que os homens e não só ficar em casa para resolver os assuntos da família”, Nanque que 50 anos depois, diz haver agora menos respeito pelas mulheres.

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“Até 80 [1980] as mulheres tinham um papel importante na sociedade, mas, depois na democracia, as mulheres guineenses voltaram para o segundo plano”, conclui.

A nova geração não só revisita os ideais de Amílcar Cabral sobre a importância da mulher na família e na sociedade, como também tem reivindicado, de si, este valor.

Maimuna Sila, advogada, activista e presidente da Fundação “Ana Pereira”, organização que luta pela emancipação da classe feminina, afirma que o problema sobre a valorização da mulher na Guiné-Bissau está nas lideranças políticas.

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“Claro que as lideranças, as atitudes e as posições das lideranças contam muito e acabam por influenciar muito na percussão de certas atitudes e práticas. Quando temos à frente do destino de um país um líder carismático e que seja alguém que defende direitos humanos de meninas e mulheres, os direitos das mulheres é normal que as pessoas acabam por segui-lo. Mas quando temos o contrário, o revés acaba por acontecer. E quando somos liderados por homens e mulheres que perpetuam atitudes preconceituosas e discriminatórias em relação às mulheres é natural também que as pessoas acabam por copiar essa má prática”, diz Sila.

A advogada e ativista considera que há que ler ou reler o Cabral, e só assim é que se pode valorizar ou reposicionar o verdadeiro papel e a importância da mulher na sociedade e na família guineenses.

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“Ter uma visão holística de tudo quanto é o pensamento de Cabral acaba por nos dar muitas respostas, dá-nos o sentido claro de toda a sua narrativa, que é justamente garantir a igualdade e libertação de todo o povo guineense, e, em especial, as mulheres. Ou seja, as mulheres sofreram dupla colonização. Não só a colonização do povo português, mas também dos próprios homens. Então Cabral quis sempre justamente fomentar essa libertação”, reforça.

Apesar de mais de 50 por cento da população ser composta por mulheres, que também lideram a maior dos lares e dominam a economia informal, ativistas e analistas políticos apontam o fato desse peso social e económico não ter correspondência no campo político e nos centros de decisão.

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No Parlamento atual, eleito a 4 de Junho, num universo de 102 deputados há apenas 11 mulheres, contra 13 em 2019, apesar da legislação exigir um mínimo de 36 por cento das listas dos partidos preenchidos por mulheres.