As vítimas do crime de tráfico de pessoas são na maioria mulheres e crianças das zonas rurais e suburbanas. O principal destino é a África do Sul, onde elas sofrem da exploração laboral e sexual.
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Os altos índices de pobreza e a falta de oportunidades para os jovens e adolescentes nas comunidades são tidos como principais factores de vulnerabilidade.
Estas constatações foram reconfirmadas pelo estudo “Tráfico de Pessoas em Moçambique, em particular, de Crianças” elaborado pelo Instituto Superior de Relações Internacionais para a Procuradoria-Geral da República, com o apoio da organização internacional Save the Children.
O estudo apresentado este ano indica que a magnitude do tráfico de pessoas em Moçambique é ainda desconhecida porque as poucas informações estatísticas disponíveis são imprecisas.
Com base numa informação da Save the Children, o estudo aponta, por exemplo, que cerca de 300 mulheres e crianças moçambicanas são traficadas diariamente para a África do Sul e outros países vizinhos para alimentar a indústria de sexo. O documento ressalva, no entanto, que tendo em conta que a informação é baseada nas chamadas diárias que aquela organização recebe, o número pode ser elevado ou reduzido.
Além da indústria de sexo, algumas vítimas são mortas para fins de extracção de órgãos utilizados em práticas supersticiosas.
Lê-se no estudo que o tráfico de pessoas confunde-se, por um lado, com o problema de imigração ilegal e do êxodo rural. Por outro, ainda não está explícita a complexa ligação entre o tráfico de pessoas e o crime organizado, muito menos o grau de penetração deste crime organizado em Moçambique, do ponto de vista social.
Calton Cadeado, um dos autores do estudo e especialista em relações internacionais, diz que muitas vezes os envolvidos no tráfico são das relações das vítimas e no processo há uma dimensão desumana assustadora, como o caso de uma senhora que para ludibriar as autoridades declarou que transportava um cabrito e na verdade era uma criança.
“Era um tratamento desumano, pura e simplesmente descaracterizar o filho como forma de esconder ou garantir o secretismo do negócio, uma forma gananciosa que as pessoas encontram para prosperar”, lamenta Cadeado.
No entanto, o Governo e organizações não-governamentais procuram contornar a situação, mas prevalecem lacunas. Reconhecendo o papel do Governo, Cadeado diz que é preciso investir em medidas a curto, médio e longo prazo para a prevenção, tornar as instituições do estado mais actuantes e divulgar mais as leis.
Para Célia Claudina, directora executiva da Rede de Comunicadores Amigos da Criança, a comunicação social pode ajudar a alcançar mais pessoas.
Mas não basta colocar cartazes na fronteira, diz Claudina. “A forma de comunicar deve ser melhorada, além de que essas pessoas traficadas não passam da fronteira normal”.