"Há um processo de ´saudização´ da mulher saudita como factor económico", diz especialista

Raúl Braga Pires, investigador

Raúl Braga Pires considera que a liberalização da mulher será faseada

O mundo surpreendeu-se esta semana com a notícia de que o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdelaziz, autorizou as mulheres a conduzirem veículos no ultraconservador país muçulmano.

A ordem real entrará em vigor em Junho do ano que vem e acontece dias depois da divulgação de um vídeo no qual um clérigo saudita afirma que mulheres "não merecem conduzir porque só têm um quarto de cérebro".

A medida, no entanto, em vez de revelar uma mudança cultural ou uma maior liberdade num dos países mais fechados, é fruto da pressão económica, segundo um especialista ouvido pela VOA.

O Departamento de Estado americano celebrou a notícia do rei saudita considerando-a "um grande passo na direcção certa", enquanto o secretário geral da ONU, António Guterres, chamou a decisão de "um importante passo na direcção certa".

A medida foi publicada dias depois que centenas de mulheres terem ido, no sábado, 23, pela primeira vez, a um estádio de Riad para assistir às celebrações da festa nacional, com shows e queima de fogos de artifício.

O especialista em questões do Médio Oriente e conhecedor da Arábia Saudita Raul Braga Pires disse à VOA que esta decisão não se deve a uma maior liberalização cultural, mas sim ao factor económico e dentro da estratégia do novo rei.

Sauditas começarão a poder conduzir em 2018

O reformador

Braga Pires afirma que “essas mudanças eram esperadas e enquadram-se na visão do novo rei Salman bi Abdulaziz Al Saud que pretende vir a ser reconhecido no futuro como o reformador” e que preparou o país para a fase pós-petróleo.

“Grande maioria da população ter formação superior e depois não poder exercer, é de facto ir contra o muro, não perceber isto é não perceber o futuro, é não perceber o presente”, argumenta Braga Pires, lembrando que o mundo enfrenta uma mudança rápida para a economia verde e sustentável e o rei saudita não quer ficar atrás.

Aquele especialista considera, por outro lado, que muitas mudanças deverão acontecer mais à frente e de forma faseada porque a religião também tem de se adaptar a esta fase, com os líderes a emitirem éditos que acompanhem essas mudanças.

A "saudização" da mulher

Para Braga Pires, a “saudização” da mulher saudita aponta para a sua preparação para ser um importante activo na economia do país no futuro, e a esse processo se seguirão outros processos, “mas sempre de forma gradual”.

Entre essas mudanças, aponta-se a figura de tutor e outros bloqueios que as mulheres enfrentam na Arábia Saudita.