O voto do Governo de Angola a favor da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que condena a anexação de quatro regiões da Ucrânia pela Rússia, na quarta-feira, 12, pode ser justificado por razões de natureza política e diplomática.
Esta leitura é de analistas angolanos ouvidos pela VOA, que apontam para uma possível mudança na política externa de Luanda.
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A 2 de Março, o Governo de Angola optou pela abstenção na votação, na Assembleia Geral da ONU, de uma resolução que condenava a invasão da Ucrânia pela Rússia e que pediu que Moscovo retirasse as suas forças imediatamente do país vizinho.
Para o jornalista Avelino Miguel, a deslocação do posicionamento de Angola configura um novo paradigma político da governação do Presidente João Lourenço que encontra justificação no seu discurso de tomada de posse.
“O Presidente João Lourenço revelou uma nova aproximação ao Ocidente”, aponta o veterano jornalista, que vê também na posição de Luanda uma forma de evitar um precedente para Angola, onde existem sentimentos independentistas em Cabinda e na Lunda Norte.
“Legitimar a invasão de um país estrangeiro estaríamos também a considerar, se isso viesse a acontecer connosco, que todo interesse estrangeiro em volta deste ou daquele conflito regional é legítimo”, conclui Miguel.
O também jornalista Ilídio Manuel entende, por sua vez que a inflexão da posição de Angola em relação à guerra na Ucrânia se deve “ao apoio do Ocidente às recentes eleições angolanas”.
Na opinião daquele analista político “o reconhecimento das eleições poderá ter sido uma moeda de troca em que Angola iria expressamente manifestar o seu apoio ao Ocidente e este, por sua vez, iria reconhecer as eleições que, de certo modo, suscitaram dúvidas e não foram convicentes do ponto de vista eleitoral”.
Veja Também Ucrânia: Analistas angolanos dizem que abstenção de Luanda na ONU é voto favorável à RússiaIlídio Manuel diz também que a aproximação de João Lourenço aos Estados Unidos e a posição de Angola em relação aos conflitos regionais em África, que tem o apoio do Ocidente, terão pesado na decisão de Angola em relação à Rússia, seu “aliado tradicional”.
A justificação do voto na ONU
A embaixadora junto das Nações Unidas justificou o voto de Angola “com as suas convicções sobre o bem fundado do princípio sacrossanto da integridade territorial consagrado na sua própria Constituição que define Angola como um Estado unitário e indivisível, cujo território é inviolável e inalienável”.
Maria de Jesus dos Reis Ferreira citou também as provisões da Carta das Nações Unidas e do Acto Constitutivo da União Africana (UA).
Veja Também EUA apertam sanções a companhia de diamantes de AngolaA diplomata lembrou que as relações entre Luanda e Moscovo “datam desde a antiga URSS que jogou um papel determinante na nossa luta contra o colonialismo e contra a invasão do território angolano pelo exercito do regime do apartheid da África do Sul” e hoje referiu, há uma “uma estreita relação de amizade e cooperação em diversos domínios de interesse comum”.
Reis Ferreira também referiu que com a Ucrânia, que foi parte integrante da ex-URSS, “Angola tem igualmente boas relações diplomáticas”.
Maria de Jesus dos Reis Ferreira concluiu que o apelo de Luanda “está conforme com o princípio de não indiferença da UA (União Africana), assim como com os esforços para a promoção da paz e segurança em África que Sua Excelência João Manuel Gonçalves Lourenço, Presidente da República de Angola, tem envidado na sua qualidade de Campeão da União Africana para a Paz e Reconciliação em África”.