Moçambique é quase um Estado falhado liderado por corruptos, diz antigo embaixador dos EUA

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Dennis Jett: Doadores e países ajudam a corrupção em Moçambique

Moçambique é um país que “está prestes a tornar-se num estado falhado, cuja democracia é uma farsa” disse o antigo embaixador dos Estados Unidos em Moçambique, Dennis Jett.

Jett acusou países ricos e doadores internacionais como o Programa de Desenvolvimento da ONU e a Conta do Desafio do Milénio de contribuirem para a manutenção do sistema de corrupção e abuso de poder deixando o povo moçambicano apenas com opções de revolta armada, emigração ou "resignação"

Escrevendo na revista americana dedicada a questões internacionais “Foreign Policy”, Jett disse que as riquezas energéticas descobertas em Moçambique não vão garantir a sua segurança ou melhoria da governação e acusou os paises ricos de “inadvertidamente acabarem por assegurar que a sua pobreza vai continuar”.

No seu artigo, Dennis Jett, actualmente professor de Assuntos Internacionais na Universidade da Pensilvânia criticou também ásperamente organizações internacionais de ajuda por serem “cúmplices” na manutenção da actual situação em Moçambique.

Dennis Jett disse que a principal causa do pessimismo para com o futuro de Moçambique se deve principalmente à corrupção de “um pequeno grupo de políticos” que governa o país desde 1975.

“Como um país em que o Produto Interno Bruto é menos de um por cento daquele dos Estados Unidos, Moçambique é simplesmente demasiado pobre para financiar as necessárias instituições da democracia que poderiam fornecer contrapesos (checks and balances) ao poder da elite governante”, escreveu o professor acrescentando que os governantes moçambicanos têm sido ajudados “pela cumplicidade de alguns países, companhias de energia como a ExxonMobil e organizações de ajuda como o Programa de Desenvolvimento da ONU e Corporação do Desafio do Milénio e pela indiferença de outros”.

O antigo embaixador americano em Maputo disse que Moçambique não estava preparado para se auto governar quando alcançou a independência em 1975 “porque as autoridades portuguesas não tinham investido na educação da população local”.

Os líderes da Frelimo que assumiram o poder realizaram eleições após o fim da guerra civil “mas o governo tem continuamente usado do seu poder para as falsificar”, escreveu Jett que dá depois pormenores da falsificação das últimas eleições , da violência contra opositores e da corrupção exemplifcada com o caso das “dívidas ocultas”.

“Devido ao facto da sociedade civil ser fraca, do parlamento e o sistema judicial estarem debaixo da mão da Frelimo e a imprensa ser em grande parte controlada pelo governo ou totalmente intimidada, os líderes fazem face a pouca pressão para governarem democráticamente e ou honestamente”, opinou Dennis Jett para quem “a única esperança é que a comunidade internacional possa tentar impor algumas (limitações ao poder do governo)”.

Mas o antigo diplomata disse que isso levantaria acusações de neo colonianliismo e para além disso “os países ricos estão mais preocupados com a estabilidade em paises que são parcialmente estados falhados do que com a democracia”.

No seu artigo o antigo embaixador dos Estados Unidos no Maputo criticou o Departamento de Estado por ter apelado às autoridades moçambicanas “a resolverem as preocupações graves de missões de observação das últimas eleições”.

“Por outras palavras o Departamento de Estado estava a sugerir que o governo deveria investigar-se a si próprio por tacticas que usou para assegurar que vence as eleições”, escreveu o Dennis Jet que criticou também um plano do PNUD de 60 milhões de dólares para ajudar “a descentralização do governo e encorajar a participação digital na democracia”, recordando que apenas 21% dos moçambicanos têm acesso à internet e que “uma coisa que a FRELIMO tornou claro ao longo dos anos é que não tenciona abrandar o seu controlo do poder dando a entidades locais que podem não ser leais à Frelimo, qualquer medida de autoridade”.

Dennis Jett criticou também o plano da Conta do Desafio do Milénio e outros doadores de doarem dinheiro “sem imporem quaisquer limitações ao abuso do poder pelo governo moçambicano embora sejam (essas organizações) que fornecem metade do orçamento do governo”.

Dennis Jett afirma que “a insurgência e terrorismo no norte vão permancer e o povo moçambicano vai ficar a pensar o que é mais destrutivo, se os ciclones que têm atingido o país ou o seu proprio governo”.

Para Dennis Jett a comunidade de doadores “ignora a corrupção e continua a oferecer ajuda humanitária e de desenvolvimento” o que não resolve os problemas do país.

“Tratar a causa básica dos males do país – a má governação – em vez do sintomas do problemas parece ser algo para além da capacidade de atenção dos paises ricos e em oposição aos seus interesses comerciais”, escreveu Dennis Jett.

“E por isso o povo de Moçambique fica com as opções da resistência armada, terrorismo Islamita, emigração ou resignação”, escrecentou o antigo embaixador americano em Moçambique

Dennis Jett foi embaixador dos Estados Unidos entre 1993 e 1996 durante a presidência de Bill Clinton