O turismo em Moçambique praticamente não existe e as previsões são muito sombrias.
As perdas, segundo a Associação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos de Moçambique (Avitum), situam-se na ordem dos 30 milhões de dólares por mês.
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Nem os grandes hotéis estão a ser poupados, com estabelecimentos de referência, até na capital do país, a encerrar portas e a dispensar trabalhadores.
O drama vive-se sobretudo nas províncias de Cabo Delgado, Inhambane, Sofala e Maputo, bem como na capital.
Construído há cerca de 100 anos e situado a escassos metros do Palácio Presidencial, o Cardoso é dos mais antigos e emblemáticos hotéis da capital moçambicana, que fechou as portas por estar sem clientes e a somar prejuízos.
“Sim, eu não quero partilhar os detalhes exatos, mas a verdade é que tivemos de fechar porque as perdas diárias são enormes. São necessários cerca de seis mil dólares para manter um negócio destes em funcionamento no dia-a-dia e não faz sentido continuarmos abertos se não obtivermos nenhuma receita”, diz Wolmarans, que espera que “tudo volte à normalidade”.
’’Decidimos encerrar as portas do Hotel Cardoso por razões económicas criadas pelo impacto da Covid-19 no nosso negócio", afirma Marius Wolmarans, o diretor-geral.
Em apuros está também o Terminus, uma das unidades hoteleiras de referência.
Localizado numa das zonas mais nobres de Maputo, tem 92 trabalhadores e 80 quartos, mas, neste momento, só tem quatro hóspedes.
"Estamos numa situação completamente lastimável’’, afirma Luís Malagissa, gerente do Hotel Terminus, que não fechou as portas, embora seja um cenário previsível porque já não há receitas.
Não especifica o valor, mas diz que o hotel está a perder muito dinheiro.
"É muito. São números bastante elevados que não gostaria de falar neles, mas é muito elevado. Como deve imaginar, temos 80 quartos acoplados a um conjunto de serviços: restaurante, cozinha, ginásio, salas de conferência, bar, piscina….para manter esta logística toda é muito complicado”, explica Malagissa.
Despedimentos à vista
A nível nacional, Ndiça Massinga, assessora da ministra da Cultura e Turismo, diz que já são muitas as unidades hoteleiras que encerraram as portas.
”Nós já temos encerrados agora 155 empreendimentos turísticos, temos 484 estabelecimentos de restauração e bebidas também já formalmente encerrados, 12 agências de viagens, para além de 45 salas de dança. Os casinos e as salas de máquinas de jogos de fortuna ou azar também estão encerrados. Do universo dos 68 mil trabalhadores da área da cultura e turismo ou do setor do turismo, 3.500, com estes encerramentos, já estão praticamente com os postos de trabalho em causa”, enumera a assessora.
João das Neves, secretário-geral da Avitum, diz que o setor está a registar perdas mensais da ordem dos 30 milhões de dólares americanos e que, se tudo continuar como está, o impacto será arrasador.
“O setor do turismo emprega neste momento 61 mil trabalhadores e arriscaria dizer que, destes, cerca de metade está na iminência de, nos próximos 90 dias, vir a sofrer despedimento ou pelo menos redução da carga laboral e consequente redução também da remuneração. Isto é inevitável”, alerta Neves.
Em 2019, Moçambique registou cerca de um milhão e 900 mil turistas e uma receita valorizada em 200 milhões de dólares americanos e para este ano a previsão era alcançar a fasquia dos mais de dois milhões e 100 mil turistas.
A assessora da ministra da Cultura e Turismo, Ndiça Massinga , reconhece que as metas não vão ser alcançadas.
As receitas, por agora, serão praticamente zero.