Alguns analistas sociais e políticos moçambicanos consideram que a decisão do Presidente norte-americano de suspender a assistência estrangeira por três meses poderá ter impactos negativos no país, sobretudo no sector de saúde, em virtude de se beneficiar anualmente de 400 milhões de dólares para o fortalecimento do sistema, dos recursos humanos e para medicamentos.
Embora a decisão de Donald Trump recomende uma reanálise dessa ajuda, que poderá ou não ser mantida ou adaptada, os próximos três meses podem representar alguma dificuldade, mas o governador de Nampula afirma que o país deve procurar seus próprios meios e não ficar de "mãos estendidas".
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O pesquisador Jorge Matine explica que ante os desafios que o sistema de saúde enfrenta, sobretudo em insumos e recursos humanos, o país poderá recuar no cumprimento dos planos de tratamento de doentes com tuberculose, HIV/SIDA e também no planeamento familiar.
Matine diz que “o mais difícil neste momento para o caso de Moçambique, e para o mundo, primeiro é que é uma suspensão temporária, então não se sabe o que isso significa" .
"É uma situação muito apreensiva porque não se sabe se da suspensão da ajuda poderá resultar uma revisão com um impacto maior, por isso, o Governo moçambicano deve preparar-se para a sua melhor negociação no processo de revisão dos contratos”, conclui aquele investigador.
A primeira-ministra Maria Benvida Levi reconheceu nesta semana que o setor de saúde será o mais afetado e que o Governo terá de encontrar alternativas.
"É um grande desafio porque o apoio dos EUA é um apoio extremamente importante, particularmente nas áreas sociais. Então, nós teremos que ver, com os nossos recursos, como é que podemos redirecionar alguns recursos para essas áreas, para que elas não fiquem sem nenhuma estrutura de desenvolverem as suas atividades", disse a governante.
Através da Agência Internacional para o Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) , Washington tem financiado anualmente programas nas áreas de mudanças climáticas, educação, saúde e saneamento e esta decisão de Trump, poderá ainda colocar em risco o compacto II do millennium Challenge Corporation avaliado em mais de 500 milhões de dólares.
Para o analista politico Alberto Manhique, embora se desconheça a decisão definitiva da Administração Trump, Moçambique não está preparado para auto-financiar-se, mesmo com o recursos de que dispõe.
Setores como educação e saúde dependem muito da ajuda externa, incluindo dos Estados Unidos.
Manhique recorda que mesmo com essa ajuda há muitos desafios devido à corrupção enraizada no Estado e, por isso, é chegado o momento de o país rever a sua forma de gestão e governação.
“Para não vivermos sempre de mão estendida, não podemos estar há 50 anos nesta situação, o país é abençoado tem todos os recursos para ter sua independência económica, e Donald Trump desde cedo deixou claro que não vai continuar contribuir para a corrupção dos países africanos”, conclui Manhique.
O Governador da província de Nampula, a mais populosa do país, questionado sobre o assunto pelos jornalistas disse que os moçambicanos devem encontrar meios locais para resolver as suas preocupações.
“Ainda bem que os Estados Unidos avisam a suspensão , então a partir de agora , cada província , neste caso nós a província de Nampula temos que começar a ver como podemos ultrapassar usando os nossos meios e não podemos viver sempre de mãos estendida”, afirmou Eduardo Abdula.
Várias organizações da sociedade civil recebem fundos dos Estados Unidos para desenvolver seus projectos.
Algumas delas contactadas pela Voz de América não quiseram comentar sobre o assunto por razões de confidencialidade.
A Voz da América contactou por e-mail a embaixada dos Estados Unidos em Maputo, mas não obtivemos resposta até este momento.