Moçambique: Sinistralidade deixa quase 400 pessoas mortas em seis meses nas estradas

Estrada Nacional 6, em Moçambique

Vinte pessoas morreram na quinta-feira num acidente emManica, enquanto pelo menos 387 pessoas perderam vida em seis meses.

Três dias depois de o antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano ter alertado que o volume de acidentes em Moçambique continuava alto por conta da negligência e da condução em estado de embriaguez de jovens, aliado a condições deploráveis das estradas, um acidente que matou 20 pessoas carbonizadas na quinta-feira, 7, em Manica voltou a reacender o debate sobre a segurança rodoviária.

Your browser doesn’t support HTML5

Moçambique: Sinistralidade deixa quase 400 pessoas mortas em seis meses nas estradas

Chissano disse numa palestra sobre a prevenção de acidentes de viação nas ruas de Chimoio, capital de Manica, que a maioria dos acidentes no país envolvem condutores jovens e que consomem álcool antes ou durante a condução, tornando as estradas um lugar perigoso para circular.

“Primeiro reclamam que a estrada não está boa, mas quando está boa, utilizam muita velocidade, e então muitos acidentes. Também há outras regras que eles não seguem, que é não conduzir sob efeitos de álcool e não falar ao telefone”, vincou o antigo estadista.

Na campanha sobre a prevenção de acidentes, uma iniciativa da Fundação Joaquim Chissano e o autarca de Chimoio, o antigo Presidente apelou à introdução da educação rodoviária nas escolas para que o conhecimento seja transmitido para crianças.

“Porque as crianças podem advertir aos próprios pais para andarem com cuidado, sem excesso de velocidade, sem bebedeira, sem falar ao telefone enquanto estiver a conduzir”, anotou Chissano quem se mostrou chocado com o número de mortes resultantes de acidentes.

Estatísticas policiais indicam que pelo menos 387 pessoas morreram em acidentes de viação no primeiro semestre de 2023 em Moçambique, a maioria envolvendo transportes de passageiros.

Novo acidente mortal

No acidente mais recente, na quinta-feira, 7, um total de 20 pessoas morreram carbonizadas em Barué, na província moçambicana de Manica, depois de uma viatura ligeira de transporte de passageiros, sobrelotada, em que seguiam, ter embatido num camião de carga e capotado.

O acidente terá sido provocado por uma nuvem de fumo, resultante de queimadas descontroladas, que ao invadirem a estrada, inibiram a visibilidade do condutor, que chocou com um camião de carga em circulação no sentido contrário, como contou um sobrevivente à Voz da América.

Nesta sexta-feira, 8, as autoridades tinham conseguido identificar seis dos 20 corpos que se encontravam na morgue do hospital distrital de Catandica, através do reconhecimento facial, devido a falta de tecnologia para o efeito.

“Já identificamos seis corpos, mas o Sernic (Serviço de Investigação Criminal) e a Saúde ainda estão a fazer o trabalho na morgue”, afirmou o administrador local, David Frank, em declarações por telefone à Voz da América.

Negligência e corrupção

Entretanto, o sociólogo Abílio Mandlate concorda com Joaquim Chissano sobre a combinação do comportamento de condução imprudente e infraestruturas rodoviárias inadequadas, mas também aponta para a corrupção na Polícia de trânsito na fiscalização das viaturas.

“A negligência e a corrupção são fatores importantes nas estradas. Estas viaturas sinistradas passam de postos de fiscalização e os agentes da polícia vê. Podemos reparar que a viatura carbonizada é uma viatura que legalmente tem lotação 15 lugares, mas tinha 23 pessoas e três saíram vivos e outras perderam a vida”, disse Abílio Mandlate.

O sociólogo defende ainda a introdução de políticas muito duras para os condutores que cometem infração nas vias públicas.