O Presidente moçambicano anunciou na semana passada, no discurso sobre o estado da nação, na Assembleia da República, terem sido encerradas 11 bases e desmobilizados mais de três mil guerrilheiros da Renamo.
Filipe Nusi anotou que existem ainda cinco bases por encerrar e cerca de dois mil guerrilheiros por desmobilizar e considerou que os terroristas estão a sofrer pesadas baixas em Cabo Delgado, sendo uma indicação de que o país está a caminhar para uma paz efectiva.
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Entretanto, analistas consideram que o país pode, eventualmente, resolver as questões de desarmamento do braço armado da Renamo e da insurgência no norte do país, mas não vai poder falar da paz, se continuarem as profundas desigualdades sociais e económicas dos moçambicanos.
"A pobreza é um factor de instabilidade e, enquanto tivermos níveis bastante elevados de pobreza, é forçado falar da paz, estamos entusiasmados com este processo de desmobilização dos homens da Renamo porque é um bom caminho, mas desafiante", considera o sociólogo Moisés Mabunda.
Ele avança que esta é uma boa perspectiva, que tem de ser acompanhada por todo um trabalho de inclusão social, no sentido de fazer equilíbrio na gestão das várias oportunidades de emprego, educação e de tudo de que o país dispôe, "e fazendo isso, penso que se pode falar de paz".
Por seu turno, o analista político Raúl Domingos, entende também que o país pode ser bem sucedido na desmobilização dos homens residuais da Renamo e no combate à insurgência, mas se as pessoas não forem devidamente reintegradas e se os problemas da juventude continuarem a ser negligenciados, a paz nunca vai ser efectiva.
"Os desmobilizados constituem ainda um grupo vulnerável e com qualquer descontentamento estes homens podem recorrer a armas para resolver as suas diferenças, pelo que é importante que a desmobilização seja acompanhada com uma efectiva reintegração", realça Domingos.
O também analista político Dércio Alfazema considera que os acordos políticos entre a Renamo e o Governo não garantem uma paz efectiva.
"É preciso institucionar a paz", defende, referindo que quando falamos da paz em Moçambique, "é preciso olharmos para esta questão nas dimensões política, social e económica, porque é preciso que aqueles moçambicanos que se encontram nas zonas que têm sido afectadas por conflitos violentos, comecem também a usufruir dos benefícios da paz".
Entretanto, para o Embaixador Intinerante e antigo ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Leonardo Simão, um aspecto importante nesta questão da paz, é a evolução que há na própria Renamo, "porque houve uma altura em que o pensamento dominante, e hoje há um predomínio cada vez maior de um pensamento civil e de participação no processo democrático".