Moçambique: O Governo de Filipe Nyusi

Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi

Analistas dizem que o Presidente moçambicano pode ter encontrado a oportunidade de que estava à espera para escolher a sua própria equipa

Com as mexidas que tem estado a fazer no Executivo, o Presidente moçambicano pode ter encontrado a oportunidade de que estava à espera para escolher a sua própria equipa governamental, depois de profundas desinteligências dentro do partido no poder Frelimo.

A presente remodelação governamental já estava planeada há pelo menos três meses, sabido que 2022 é um ano muito particular para a Frelimo e para Filipe Nyusi, que está quase em final de mandato, e estas mexidas visam ajustar a governação até ao próximo congresso do Partido, em que será afinada a estratégia para as eleições gerais de 2024.

Isto significa que em 2023, começarão a verificar-se as movimentações eleitorais.

Sabe-se, no entanto, que Filipe Nyusi tem apostado muito, como seu bastião do poder, não tanto no partido mas no Governo e na sua equipa governamental, sendo esta, segundo o jornalista Fernando Lima, uma das explicações para estas mexidas no Executivo.

Mas, para o sociólogo Moisés Mabunda, a forma pouco comum como foi exonerado, por exemplo, o primeiro-ministro, sem qualquer explicação pública, fez acordar alguns fantasmas porque na formação do Governo, neste segundo mandato, "foi público que houve desinteligências na Comissão Política e dentro do partido Frelimo quanto à proposta inicial da composição do Governo".

"Consta que o Presidente teve que recuar até na própria figura do primeiro-ministro porque não era a que ele defendeia, e pode ser que essas desinteligências estejam a vir ao de cima, sobretudo pela forma como as mexidas no Governo estão a ser feitas", realça aquele analista político.

Fernando Lima, por seu lado, reforça esta ideia de que Filipe Nyusi foi obrigado a aceitar nomes que não eram os da sua preferência e sublinha que "nem sempre aquilo que o Presidente pensa, diz e faz é o resultado das suas próprias convicções,mas isso tem que ver com equilíbrios partidários, neste caso concreto, do partido Frelimo".

Lima avança que "a questão que se coloca é se esta não é a oportunidade por que esperava Filipe Nyusi para escolher a sua própria equipa, tendo como referência que a equipa escolhida para o novo mandato, não foi, totalmente, uma equipa por si escolhida, mas uma equipa que teve que envolver consensos partidários para ser aprovada".

Nos círculos políticos diz-se que com estas mexidas o chefe de Estado pretende colocar no Governo pessoas que o possam ajudar a melhorar a sua imagem, bastante afectada pelos pronunciamentos feitos durante o julgamento do caso dívidas ocultas.

"Claramente, a ideia é para reforçar a sua imagem e o seu poder, porque senão não mexeria na sua equipa e deixaria que se acabasse o segundo mandato e, no fim do dia, como se costuma dizer, é que se fazem as contas", destaca Lima.

Ao dar a posse ao novo primeiro-ministro Adriano Maleiane e os novos ministros, Nyusi resumiu: “A equipa que tinha era boa na defensiva, agora estamos a construir uma equipa para empreender um maior caudal ofensivo”.