Moçambique: missionários sul-africanos e piloto norte-americano detidos suspeitos de apoiar terrorismo sem julgamento à vista

Palma, Cabo Delgado

Os dois missionários sul-africanos e um piloto norte-americano detidos há mais de um mês em Moçambique alegadamente por “apoio ao terrorismo” em Cabo Delgado continuam sem julgamento à vista, estando ainda em curso a produção de provas, disse à VOA o advogado de dois visados.

“Eles já completaram um mês e alguns dias presos”, disse Abílio Macuácua, que pediu a libertação dos indiciados ao considerar injusta a sua detenção, e realçou que estão a trabalhar em “tudo aquilo que agente precisa fazer”, para repor a justiça.

Os dois cidadãos sul-africanos, nomeadamente Wikkie du Plessis, de 71 anos, e Eric Dry, de 69 anos, e o piloto norte-americano foram detidos na província de Inhambane, sul de Moçambique, quando tentavam carregar numa aeronave bens alimentícios e pesticidas que seriam destinados a um orfanato da Igreja Águas Vivas, no distrito de Balama, em Cabo Delgado.

“Esse atraso [processual] normal não é”, reagiu Macuácua à demora do processo, que está na fase de instrução preparatória, esclarecendo que “em princípio deveriam ser cinco dias ou menos dias, tratando-se de arguidos presos”.

Os visados foram inicialmente indiciados de transporte de mercadoria não declarada pela Polícia em Inhambane, que fez a apreensão do produto durante a inspeção pré-embarque, antes de ser metido numa aeronave que devia descolar com destino a província de Cabo Delgado, a braços com ataques de grupos de insurgentes há cinco anos.

Os idosos aposentados terão se deslocado da Africa do Sul para Inhambane de carro para passar férias, quando um deles aceitou levar produtos angariados por uma organização na África do Sul, para o orfanato em Balama, onde um deles já foi voluntário, contou o advogado.

Em declarações anteriores, Abílio Macuácua, referiu que os três detidos tinham sido transferidos de forma “estranha e misteriosamente” de uma esquadra para a cadeia de máxima segurança da província de Maputo, vulgo BO, supostamente por razões de segurança.

O advogado reiterou que os dois cidadãos sul-africanos não tinham intenção de viajar para Cabo Delgado e o seu acto misericordioso limitava-se a transportar os bens angariados na África do Sul até à aeronave, que já se encontrava em Inhambane.

As autoridades moçambicanas ainda não se pronunciaram sobre o caso desde a detenção dos visados.

A VOA tentou sem sucesso contactar a Igreja Águas Vivas em Balama.

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada promovida por um grupo rebelde, com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que já provocaram um milhão de deslocados, segundo ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.