Moçambique: Manifestantes impedem circulação na fronteira e Governo sul-africano revela preocupação

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Um veículo blindado militar bloqueia a estrada enquanto manifestantes tentam chegar ao posto fronteiriço de Ressano Garcia, entre Moçambique e a África do Sul, 13 novembro 2024

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique reforçaram a sua presença junto da fronteira com a África do Sul em Ressano Garcia nesta quinta-feira, 14 de novembro, para fazer frente a protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane que exige a "reposição da verdade eleitoral" por considerar que ele ganhou a eleição presidencial de 9 de outubro e não Daniel Chapo, da Frelimo, partido no poder.

Manifestantes moçambicanos fecham fronteira de Ressano Garcia

Mesmo com esse reforço, pelo segundo dia consecutivo manifestantes cortaram a circulação naquele ponto de entrada das importações para a capital moçambicana e de saída das exportações sul-africanas.

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Protestos em Moçambique podem inspirar outros países como Angola

Os manifestantes marcharam pelas ruas sempre acompanhadas pelas FDS e não há notícias de incidentes.

Calma em Maputo, gás lacrimogénio em Quelimane

Ontem, apesar da calma registada na capital dop país, cinco pessoas deram entrada no Hospital Central de Maputo com ferimentos na sequência de confrontos com a polícia.

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Quatro tiveram alta e uma encontra-se a ser tratada a um trauma ocular, segundo o diretor do Serviço de Urgências de Adultos, Dino Lopes,

Também ontem, em Quelimane, na província da Zambézia, o presidente do município Manuel de Araújo, da Renamo, disse que a polícia usou gás lacrimogéneo contra ele e vários munícipes que se deslocaram ao aeroporto para o receber.

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Moçambique: Manifestantes criticam atuação da polícia

"Bloquearam-nos literalmente, lançaram gás lacrimogéneo à nossa frente, lançaram gás atrás de nós, à nossa esquerda e lançaram gás à nossa direita", afirmou Araújo numa mensagem gravada enviada à imprensa.

Em Nampula, capital da província do mesmo nome, três pessoas foram baleadas mortalmente pela Polícia da República de Moçambique (PRM), no bairro de Namicopo, na sequência do protesto.

Um residente de Namicopo contou que a manifestação começou de forma pacífica, mas seguiram-se tumultos com a presença da polícia, que atirou contra um suposto motociclista e um menor de aparentemente 12 anos de idade.

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A fonte acrescentou que várias pessoas foram atingidas por balas, o que enfureceu população que fez refém um agente policial à paisana.

Em conferência de imprensa, o chefe das relações públicas no comando da PRM, na cidade de Nampula, chamou as ações dos manifestantes de terroristas.

Perdas financeiras

Com os protestos ainda em curso, a Confederação das Associações Económicas (CTA, nas siglas em inglês) disse nesta semana que as perdas totais e o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) totalizam perto de 24,8 mil milhões de meticais, quase 390 milhões de dólares, cerca 2,2% do PIB.

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“Estas perdas colocam em risco o alcance da meta de crescimento económico de 5,5%, previsto para o presente ano”, disse o presidente da agremiação, Agostinho Vuma, quem acrescentou que foram afetadas diretamente 151 unidades empresariais, das quais 11 encerraram temporariamente as atividades, colocando em risco mais de 1200 postos de trabalho.

O principal parceiro económico de Moçambique, África do Sul, também começa a sentir dificuldades para exportar os seus produtos.

Pretória manifesta preocupação

Após uma reunião do Governo na quarta-feira, 13, a ministra da Presidência manifestou a preocupação com a situação em Moçambique.

“A violência pós-eleitoral em curso é uma preocupação, e todas as partes descontentes devem esgotar os recursos legais estabelecidos para resolver suas queixas eleitorais e continuar a construir sobre os fundamentos da paz estabelecidos no Acordo de Maputo para a Paz e Reconciliação Nacional”, disse Khumbudzo Ntshavheni.

Ela acrescentou que “as partes em Moçambique devem submeter as suas queixas e suas evidências de descontentamento ou insatisfação por meio do Conselho Constitucional e permitir que o conselho julgue o assunto, há um período permitido para isso”.

Ntshavheni informou as jornalistas que os canais diplomáticos entre Pretória e Maputo foram acionados para garantir que as forças de segurança não usem força desproporcional contra aqueles que se estão a manfestar".

Entretanto, a governante frisou que representantes da SADC e da União Africana estiveram nas eleições em Moçambique e concluíram que, apesar de alguns percalços, as eleições foram de um modo geral livres.