Moçambique: Governador de Cabo Delgado e jornalistas em "fogo cruzado"

Edifício do Governo do distrito de Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, Moçambique

Valige Tauabo diz haver jornalistas com acordos com terroristas e profissionais dizem que o governador quer coartar a liberdade de imprensa

O governador de Cabo Delgado é acusado por profissionais da comunicação social de tentar coartar a liberdade de imprensa e de expressão ao afirmar que podem existir parcerias entre jornalistas e os terroristas para a divulgação dos ataques.

Os jornalistas destacam o fato de que o Governo nunca
teve uma estratégia de comunicar a guerra naquela província.

"Não estou surpreendido, infelizmente, sempre que o recrudescimento de ações terroristas em Cabo Delgado e a comunicação social se adianta ao Governo, este reage com algum nervosismo", diz o
jornalista Tomás Vieira Mário, membro do MISA Moçambique.

Vieira Mário refere que isto acontece porque o Governo nunca teve a estratégia de comunicar a guerra em Cabo Delgado e " reage de forma áspera quando a comunicação social reporta aquilo que já é público, e não é
a primeira vez que isto acontece".

Para o jornalista Egidio Plácido, o pronunciamento do governador provincial "não permite o exercício livre do jornalismo, parece-me que ele está a tentar coartar a liberdade que a comunicação social tem", sublinhando que o Estado moçambicano, em termos oficiais, não dá qualquer informação acerca do conflito em Cabo Delgado.

Por seu lado, o também jornalista Luis Nhachote diz que quem acusa deve provar, "é assim que regem os manuais de Direito".

"O governador tem a Procuradoria-Geral para se queixar e não vir a público fazer acusações infundadas, eu penso que ele foi infeliz", acrescentou.

As afirmações do Governador

Entretanto, o analista político Francisco Matsinhe aponta que o governador não vai provar nada porque não há nada para provar, recordando que há um jornalista desaparecido por ter reportado a situação da guerra em Cabo Delgado.

No sábado, 17, o governador de Cabo Delgado, ao se dirigir a jornalistas afirmou que "notamos que de vez em quando as vossas informações são de âmbito muito duvidoso porque adiantam uma informação, que parece que o jornalista está em sintonia com os terroristas".

"Então, quando as nossas Forças de Defesa e Segurança abortam essa ação antes de acontecer, parece que há uma formatação do lado dos nossos concidadãos jornalistas, que já estavam formatados e que tinham certeza que essa ação ia acontecer, esquecendo que, portanto, a população na província e as Forças de Defesa e Segurança, todos nós estamos empenhados a debelar esta situação", disse Valige Tauabo.