Os vários problemas que enfermam a democracia moçambicana, entre os quais a corrupção, violações dos direitos humanos e falta de transparência nos processos eleitorais, podem ter sido determinantes para que Moçambique não fosse convidado a participar na Cimeira para a Democracia, organizada pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a 9 e 10.
A leitura é de analistas moçambicanos ante o facto de o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, não ter sido convidado para participar nesse eventual virtual.
Veja Também Cimeira para Democracia: Analistas dizem que é oportunidade para Angola deixar autoritarismoO Presidente da Guiné-Bissau é o outro dirigente lusófono que não foi convidado.
O Índice da Democracia 2020 da The Economist Intelligence Unit, que avalia a democracia da maior parte dos países da África subsaariana, diz que em Moçambique a democracia está a regredir cada vez mais, sobretudo no que diz respeito aos processos eleitorais, pluralismo, liberdades civis e funcionamento do Governo.
O sociólogo Moisés Mabunda considera que a qualidade da democracia deixa muito a desejar "porque nós deviamos ter uma democracia mais profunda e parece que não estamos a conseguir isso".
Aquele analista político anota que "de eleições a eleições, é o desencadear de novos conflitos que depois desaguam em hostilidades militares os eventos não podem ser sempre focos de insatisfação, de conflitos e de discórdia nacional, os processos devem ser mais transparentes e consensuais".
Para Mabunda, o facto de Moçambique não ter sido convidado "perde a oportunidade de discutir importantes assuntos com outros países e isso, passa uma imagem negativa na comunidade internacional".
Por seu lado, o líder político Raúl Domingos diz não ter ficado surpreendido por Moçambique não participar na cimeira organizada pelo Presidente norte-americano "porque a democracia moçambicana tem muitos problemas".
"Moçambique está com uma imagem manchada, não só por causa das dívidas ocultas, mas também de problemas com a própria democracia, violação dos direitos humanos e a criminalidade de uma forma geral", realça Raúl Domingos, presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD).
Entretanto, fonte próxima do Governo diz não haver drama nesta questão porque "o facto de muitos países terem sido convidados não significa, necessariamente, que os processos políticos nesses países têm aprovação dos Estados Unidos".
Esta é também a opinião do analista Francisco Matsinhe, que realça o facto de Moçambique ser o maior parceiro bilateral dos Estados Unidos.
Ele revere "ainda ontem, segunda-feira, os Estados Unidos ofereceram mais de dois milhões de doses de vacinas para a Covid-19, uma das maiores doações a países africanos".