O Governo de Moçambique, pressionado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), diz que já não vai mais subsidiar as gasolineiras e as panificadoras e que, doravamente, os subsídios vão ser dados às pessoas carenciadas, aparentemente como forma de evitar eventuais riscos sociais e políticos decorrentes de aumentos globais nos preços alimentares e energéticos.
O primeiro-ministro Adriano Maleiane considera que a política de subsídios implementada pelo Governo não tem sido eficaz porque não atinge as pessoas carenciadas.
De acordo com o governante, "o subsidio às moageiras, bem como à Associação Moçambicana de Panificadores (AMOPAO), por exemplo, não atinge realmente as populações carenciadas".
Veja Também Analistas moçambicanos saúdam financiamento do FMI, mas pedem reforço da transparênciaO analista Calton Cadeado diz que esta decisão faz parte das reformas que o FMI exige do Governo moçambicano "porque há bastante tempo que esta política deixou de ser eficaz, mas o Executivo sempre fez questão de a manter".
Cadeado também coloca em causa o mecanismo que o Governo pretende usar no apoio aos carenciados, dadas as fragilidades existentes nos locais de residência dessas pessoas, incluindo questões de corrupção, o que poderá dificultar a implementação desse mecanismo.
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O economista José Sitoi afirma, por seu turno, que para além de subsídios aos carenciados, "é preciso também pensar em encontrar formas de subsidiar o agricultor que vai produzir milho, trigo, arroz e outros produtos essenciais, e mecanismos de apoiar os mais carenciados, caso contrário, poderemos enfrentar agitações sociais gravíssimas".
Veja Também Conselho de Administração do FMI aprova acordo de ajuda de 470 milhões de dólares a Moçambique"Nós estamos a sentir os primeiros efeitos da guerra na Ucrânia, mas não sabemos o que virá daqui para a frente, e eu não sei se o Governo está a encarar esta situação com muita seriedade", vinca aquele analista.
A agência de notação financeira Moody's, numa das suas mais recentes notas aos clientes, diz que nos próximos 18 meses antevê em Moçambique "um aumento nos riscos sociais e políticos em resultado do choque global nos preços alimentares e energéticos, como aconteceu em 2008".
Entretanto, o analista Ismael Mussá, defende que relativamente aos combustíveis, o Governo deve ter duas opções, uma opção a curto prazo e outra de médio e longo prazo.
"A curto prazo, o Governo deve encontrar uma reforma tributária imediata de atenuar o aumento dos combustíveis porque neste momento nós temos cinco IVAs (Imposto de Valor Acrescentado) contra três que tínhamos em 2007, pelo que o Governo deve reduzir alguns impostos", defendeu aquele analista.
Ele refere que a médio e longo prazo, "o Governo deve fazer um grande investimento, para que o país tenha capacidade de comprar grandes quantidades de combustíveis e tenha depósitos nos principais portos e carruagens para transportar esses combustíveis para os países vizinhos".
Para o analista Hilário Chacate, "este país não precisa de subsídios, o país precisa de ter um Norte, precisa de ambições que são orientadas por meio de instrumentos que nos possam levar a um determinado lugar, nós estamos em crise profunda, como nação, de utopias que levem a sonhar onde é que nós queremos chegar".