Moçambique: Desabamento de mina mata três garimpeiros e dezenas estão soterrados

Resgate de mineiros soterrados em Amatongas, distrito de Gondola, na província moçambicana de Manica

Sobrevivente explicou que o desabamento ocorreu no principio da amanhã apanhando de surpresa dezena de garimpeiros

Uma mina artesanal de ouro desabou matando três garimpeiros e soterrou dezenas de outros nesta quarta, 15, no interior de Amatongas, no distrito de Gondola, na província moçambicana de Manica, reacendendo problemas da segurança precária na mineração artesanal no país.

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Garimpeiros arriscam vida pela sobrevivência das famílias em Manica

Analista social realça que a pobreza e falta de emprego vão continuar a forçar jovens a arriscarem as suas vidas e o Governo reconhece o dilema de segurança na mineração artesanal com o mais recente episódio de desabamento de mina.

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"Uma parede de solo cedeu e cobriu com terra pelo menos 12 túneis de mineração de ouro, soterrando dezenas de garimpeiros que exerciam a atividade e em subcondições", explicou o chefe do Posto Administrativo de Amatongas.

“Havia um grupo de garimpeiros que estavam a fazer seu trabalho e a mina teria desabado. Não podemos avançar o número de quantos estão soterrados, porque não temos a certeza, mas neste momento continuamos em operação de resgate”, precisou Mário Paunde em declarações à Voz da América.

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Aquele responsável anatou que três garimpeiros morreram no incidente e outros três dos quatros que sobreviveram ao desabamento da mina continuam estáveis e em tratamento hospitalar.

Um dos sobreviventes, Samuel Timba, explicou que o desabamento ocorreu no principio da amanhã apanhando de surpresa dezena de garimpeiros que estavam em operações nos túneis.

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“A mina desabou enquanto tinha pessoas a trabalhar, eram 5 horas horas da manhã. Havia 12 minas em atividade e que tinham pessoas aí”, afirmou Samuel Timba, adiantando que os garimpeiros estão a colaborar com as autoridades no processo de resgate.

Pobreza e insegurança

O instinto dos garimpeiros geralmente leva-os a zonas acidentadas, onde a atividade é arriscada, sobretudo na estacão das chuvas, quando eleva o risco de desabamento, e com registo de mortes de forma recorrente no garimpo em Moçambique.

O incidente da quarta-feira, 15, é o primeiro a ser registado pelas autoridades em 2025, mas outras 25 pessoas morreram em desabamento de minas em vários distritos na província de Manica em 2024.

Vários outros casos não entraram para as estatísticas.

Mário Paunde observa que as autoridades têm apelado aos garimpeiros para se unirem em associações mineiras e assim se beneficiarem da assistência técnica do Governo e garantir a sua segurança.

“Os jovens exercem a atividade de forma ilegal, e sempre aconselhamos os jovens para criar associação para ter uma assistência técnica, para que essas situações (de desabamentos) se evitem”, avançou Mário Paunde.

Desemprego e pobreza na origem do "desespero"

Entretanto, o sociólogo Abílio Mandlate observa que a atividade mineira em Moçambique é realizada em subcondições, com a maioria dos garimpeiros a recorrer a métodos tradicionais de mineração, apesar do alto risco.

“A falta de emprego, de oportunidades, da pobreza que leva as pessoas a arriscar com meios de subsistência a qualquer custo”, afirma Abílio Mandlate em entrevista à Voz da América.

Ele acrescentou que os garimpeiros também arriscam suas vidas pelo facto de “verem e perceberem como as empresas ou outras pessoas que estão no ramo enriquecem com a atividade”.

A província de Manica é rica em recursos minerais, sobretudo ouro e pedras preciosas e semipreciosas, onde nos últimos anos foram recuperados 30 quilogramas de ouro não declarados, durante o rastreio mineiro feito pelas autoridades para travar o contrabando.