Moçambique: Da violência verbal a fake news, uma campanha eleitoral de preocupações

Montagem: campanha do PODEMOS, Renamo, MDM e Frelimo (da esquerda para a direita)

Comissão Nacional Eleições critica uso de violência verbal e incitação á violência, analistas políticos pedem responsabilização dos autores

Em Moçambique, no início da terceira semana da campanha eleitoral, autoridades e observadores políticos alertam para discursos que incitam a violência, injúria a adversários políticos e divulgação de fake news.

O presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) chamou a atenção para essa realidade, mas analistas políticos dizem que a autoridade eleitoral devia revelar e responsabilizar os autores desses atos.

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Moçambique: Da violência verbal a fake news, um caminho de preocupações

“Alguns candidatos não têm pautado por usar uma linguagem moderada e conciliatória para o bom discurso da campanha eleitoral. Temos acompanhado alguma linguagem com tendências para incitação à violência e com injúria à mistura”, disse Paulo Cuinica, presidente da CNE.

Para o analista político, Lázaro Mabunda, do Centro de Integridade Pública, a CNE peca por não indicar os nomes de quem profere esse tipo de discursos, para que sejam responsabilizados.

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"Intolerância política" caracteriza a segunda semana da campanha

“A CNE devia, em vez de se esconder, dizer qual é o partido que está a incitar a violência. E a incitação à violência é um crime, e se é um crime, esse partido tem que ser responsabilizado porque não se pode esperar que ocorra a violência para não se responsabilizar um determinado partido”, comenta Lázaro Mabunda.

Por seu lado, o também analista político Wilker Dias, da Plataforma de Observação Eleitoral Decide, chama a atenção para o impacto desses discursos em plena campanha eleitoral e recorda que, nas eleições autárquicas passadas, foi no seguimento de discursos que incitam à violência que se registaram confrontos entre membros de partidos políticos.

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“Partidos políticos, coligações, candidatos, devem ser os primeiros a semear aquela que é a mensagem de tolerância política. Porque caso isso não aconteça (...) o mais provável é que comecemos a assistir de forma contínua, ou até de certa forma alarmante, o aumento de casos ligados a esta situação de violência em tempos eleitorais”, aponta Dias.

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Uso de bens públicos para campanha - "ninguém irá ver"

Ao longo da presente campanha eleitoral tem-se assistido também a difusão de fake news.

Lázaro Mabunda diz que "nas zonas urbanas onde há uma população com nível de escolaridade um pouco mais avançado e é uma população que recebe mais informações, então é uma população com mais meios, tem mais acesso à internet, mais acesso a dispositivos de difusão de informação, então essa pode ser eventualmente ser influenciada", mas aquele ativista duvida que " essa influência se faça sentir, por exemplo, nas zonas de rurais onde a grande parte da população, mesmo aquela que tem um nível de escolaridade aceitável, tem imensas dificuldades”.

Wilker Dias refere que as fake news poderão influenciar a percepção dos eleitores e desencadear conflitos pós-eleitorais.

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“A existência de fake news, por exemplo, uma fake news que pode determinar que um determinado partido ganhou em detrimento do outro enquanto não é verdade, isto pode causar uma onda de indignação e a perspetiva de que os órgãos eleitorais estão a roubar, partindo do pressuposto de que há uma confiança mínima nos órgãos eleitorais e este acontecimento pode criar algum dissabores em termos práticos”, concluiu aquele analista político.

As eleições gerais realizam-se a 9 de outubro.