Moçambique vai continuar dependente do apoio do Ruanda para manter a estabilidade da província de Cabo Delgado de ataques insurgentes nos próximos anos, apesar de vigorosos apelos da República Democrática do Congo (RDC) para os governos da região colocaram Kigali na "lista negra" por apoiar o movimento rebelde M23, defenderam analistas à VOA nesta quinta-feira, 20.
As tensões entre Kinshasa e Kigali intensificaram-se em finais de janeiro após a tomada de Goma, no leste da RDC, por rebeldes do movimento M23 apoiados por tropas do Ruanda, que em simultâneo combatem insurgentes islâmicos no norte de Moçambique.
A investigadora Liazzat Bonate observa que as fileiras dos insurgentes em Cabo Delgado eram compostas maioritariamente por adolescentes no início do conflito e que combatentes seniores teriam emigrado da RDC para integrar o grupo localmente conhecido por al-shaabab, uma informação não confirmada pela Voz da América junto de fontes independentes.
“Eles somente recrutavam adolescentes. Quando o exército foi lutar, foi lutar com adolescentes, com menores, e todos aqueles abusos naquele campo de Mueda, aqueles miúdos que foram mortos, torturados e fuzilados, todos eram basicamente adolescentes” diz Bonate.
Por sua vez, Dércio Alfazema, analista político, considera que a tensão entre Kinshasa e Kigali não vai afetar Maputo, dado o acordo bilateral com o regime de Paul Kagame, e que atualmente Moçambique depende dele para a estabilidade de Cabo Delgado.
“Ficou claro que nós não temos condições de unilateralmente ultrapassar este crime transnacional. Nós já tivemos aqui para além de Ruanda as Forças da SADC, que por questões logísticas se retiraram, então por essas alturas descorar a parceria com Ruanda para responder este desafio de terrorismo poderá ter efeitos bastantes negativo” enfatiza Dércio Alfazema.
Aquela investigador aponta ainda que o Governo de Maputo ainda vai levar tempo para conseguir dar resposta aos ataques dos insurgentes, que ameaçam projeto bilionário de gás natural em Palma.
“Vamos ainda precisar de tempo, para podermos criar condições e poder resolver esse problema por conta própria”, sublinha Alfazema, insistindo não ser prudente correr com a tropa ruandesa em apelo às sanções ao pedido da RDC.
Ele conclui que “o sensato é reforçar as nossas capacidades, técnicas e humanas, de meios e logística para dentro do território moçambicano serem as nossas forças a garantir a segurança das pessoas e bens e resolver esse problema de terrorismo em Cabo Delgado”.
A região de Cabo Delgado vive há cerca de sete anos um severo conflito - com ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico -, que conduziu a mais de 1.3 milhões de deslocados internamente, a maioria mulheres e crianças.
Moçambique recebeu o apoio do Ruanda e do bloco regional da Africa Austral (SAMIM) em 2021, para o combate ao terrorismo, mas a missão militar do SAMIM terminou a 4 de julho de 2024, após “melhoria de segurança”, entretanto, sem estancar os ataques.