Cerca de 70 pescadores, que tinham sido sequestrados na sexta-feira, 9, por um grupo de insurgentes apoiados pelo Estado Islâmico no litoral de Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delgado, foram resgatados após três dias em cativeiro e gozam de boa saúde.
A informação foi confirmada à Voz da América nesta terça-feira, 13, pelo administrador de Mocímboa da Praia
Os pescadores foram raptados enquanto puxavam suas redes durante a pesca noturna, no extremo mais a sul do distrito de Mocímboa da Praia, e foram mantidos em cativeiro.
Sérgio Cipriano, administrador de Mocímboa da Praia, afirmou que os pescadores chegaram em duas embarcações no meio da tarde de hoje à vila sede do distrito de Mocímboa da Praia, e estão em curso alguns trabalhos de perícia.
“Eles já voltaram. (Os pescadores) das duas embarcações voltaram todos e voltaram todos saudáveis. Agora está a decorrer o registo, e depois daí aqueles que quiserem ter alguma assistência médica poderão o fazer”, disse Cipriano.
Os pescadores, prosseguiu Sérgio Cipriano, foram mantidos no litoral de Mocímboa da Praia, não tendo se deslocado a nenhuma ilha.
"Pelo que foi avançado estavam na foz do rio Messalo”, afirmou.
As autoridades não avançam se houve negociações para o resgate dos pescadores, mas garantiram que estavam em permanente contacto com pelo menos três pescadores sequestrados, que já haviam dado indicações de que os mesmos seriam colocados em liberdade hoje.
O sequestro
Os pescadores, que estavam em quatro embarcações, foram raptados em plena atividade e suas embarcações rebocadas por um grupo armado.
“Nas duas embarcações, a primeira tinha 30 pescadores e a segunda embarcação 28 pescadores. Depois houve uma terceira não motorizada a vela, com três pescadores e uma outra com uma pessoa. Mas informações posteriores davam conta que foram raptados 66 pescadores, e depois o número aumentou para 70”, concluiu Sérgio Cipriano .
Vários relatos dos residentes à Voz da América receiam que os pescadores tenham sido sequestrados para engrossar a fileira dos grupos terroristas, para novas incursões armadas.
“Não há sossego, porque há um pânico em Milamba e em Mocímboa da Praia sede. As pessoas estão chocadas e preocupadas”, disse um morador local, anotando que até hoje não havia informações sobre o estado dos pescadores.
“Não sabemos se estão vivos ou mortos. Tem muitas famílias que têm filhos e outros parentes neste grupo”, vincou outro morador.
Novos ataques
No mesmo dia do sequestro massivo de pescadores, o grupo armado terá montado uma mina improvisada na zona de Chitunda, no distrito de Muidumbe, e emboscado uma viatura da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ligado à Polícia.
Um agente da UIR morreu, e um comandante da unidade ficou ferido no incidente.
Os feridos foram socorridos por uma equipe da força ruandesa que viajava no mesmo troço pouco depois do incidente.
No dia anterior, o grupo armado terá conseguido ludibriar o cordão de segurança da força ruandesa para saquear e queimar a mais importante estância hoteleira da vila sede de Macomia.
“A guerra ainda não acabou. Os insurgentes surpreenderam de noite, e queimaram aquele edifício MM. Mesmo com patrulha, isso está difícil acabar. Os insurgentes passaram no meio da patrulha e entraram na vila”, contou um morador de Macomia.
Cabo Delgado, rica em gás natural, enfrenta desde Outubro de 2017 uma insurgência armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.