Moçambique celebra nesta quinta-feira, 25, o 45º aniversário da sua independência e analistas dizem que só uma mudança estrutural pode fazer com que o país saia da encruzilhada em que se encontra.
Eles realçam ainda que as "elites moçambicanas não podem querer continuar a comer tudo sozinhas porque isso adia o desenvolvimento".
Os 45 anos de independência nacional assinalam-se numa altura em que o país regista violência armada perpetrada por insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado, focos de conflito nas províncias centrais de Manica e Sofala e elevados índices de pobreza um pouco por todo o país.
O diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortêz, diz que Moçambique está a atravessar enormes desafios, como o da insurgência em Cabo Delgado, que impõe soluções criativas.
Veja Também Moçambique sem estratégia para combater terrorismo, diz Departamento de Estado americano"Este conflito começou há cerca de três anos e foi subestimado pelo Governo, que igualmente tentou intimidar as organizações da sociedade civil, pesquisadores e jornalistas que procuravam perceber o que se está a passar em Cabo Delgado", lembrou Cortêz, anotando que "neste momento, parte considerável dos recursos financeiros do país é destinada às Forças De defesa e Segurança porque temos um conflito armado".
Solução estrutural
Para o diretor do CIP, a solução para esta crise passa por mudar parte considerável daquilo que vários governos de Moçambique independente não fizeram, colocando o país numa encruzilhada.
"Tem uma solução que é estrutural, que é implementar políticas públicas que não foram feitas no sentido de combater, seriamente, desigualdades sociais, desigualdades no investimento público", destacou aquele investigador.
Veja Também Renamo diz que 45 anos de independência de Moçambique foram de retrocesso económicoDe acordo com o diretor do CIP, "se as pessoas aceitam serem mobilizadas por movimentos, quer seja movimento islâmico ou qualquer que seja; se as pessoas aceitam ser mobilizadas para entrarem numa dinâmica de guerra de destabilização, é porque num contexto de paz não têm esperança".
Cortêz considera que "continuamos a ter um país em que grande parte do investimento público é feito a nível central, e províncias como Cabo Delgado não têm esse nível de desenvolvimento; Cabo Delgado é a província com maior índice de analfabetismo e elevados índices de pobreza".
Na sua opinião, "Cabo Delgado é uma província onde os serviços básicos para as populações são uma deficiência total e uma província cujas populações usam as suas redes de solidariedade para viver".
Segundo o director do CIP, há que mudar políticas públicas no sentido de criar o desenvolvimento nessas províncias, "de modo a reduzir o descontentamento social e focos de eventual conflito. Estes são os desafios que as elites de Moçambique devem pensar porque não podem querer continuar a querer comer tudo sozinhas aqui, a nível central, e acharem de quando em vez mandam migalhas para o resto do país e as pessoas se vão contentar".
Por seu turno, o diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDC), Adriano Nuvunga, considera também que Moçambique está numa encruzilhada, "e tem um conjunto de problemas que se auto-inflingiu porque preferiu adiar o desenvolvimento, e para o enriquecimento de alguns pequenos grupos, preferiu adiar o desenvolvimento dos moçambicanos".
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"Essa, para mim, é a causa de muitos problemas, incluindo o de Cabo Delgado. Se Moçambique tivesse seguido a rota de desenvolvimento inclusivo, orientado para a população, os problemas de fora podiam vir, mas a população estaria mais unida e dentro dos assuntos, com níveis muito altos de exaltação da pátria, como acontecia no passado", considerou o diretor do CDD.
Por seu lado, o presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raúl Domingos, afirma que ao longo dos 45 anos da sua independência, o país enfrentou a guerra do regime do apartheid, na África do Sul, da antiga Rodésia do Sul e a guerra civil, "e neste momento estamos a ser confrontados com essa invasão no norte do país, que de algum modo se confunde com tentativas de tirar vantagens na exploração dos recursos naturais".
Para Raúl Domingos, "estamos numa situação bastante complicada, que precisa de muita ponderação e sobretudo da união dos moçambicanos, mas é evidente que a má governação, aliada à corrupção, acaba minando todos os esforços de desenvolvimento e de uso racional dos recursos naturais".
Entretanto, para Adriano Nuvunga, a solução para esta encruzilhada passa por adotar políticas inclusivas "e não a situação que temos hoje em que há pessoas que querem continuar a querer comer tudo sozinhas, isso é que está a adiar o desenvolvimento".