Milhares de moçambicanos que regressaram nos últimos meses dos campos de refugiados do Malawi dizem enfrentar uma fome aguda, com a maioria a recorrer a mangas para sobreviver em aldeias do interior da província de Tete.
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O grupo faz parte dos últimos três mil moçambicanos que regressaram entre Setembro e Outubro às aldeias de origem, quase três anos depois.
Sem recursos, depois de terem vistos os celeiros destruídos e vandalizados por militares durante o conflito que forçou o êxodo para o Malawi, vários regressados deles recorrem agora a mangas e frutas silvestres para enfrentar a fome, enquanto esperam pela produção agrícola em machambas recém cultivadas.
"Regressamos e estava tudo destruído. Não produzimos nos últimos três anos, e agora só nos sobram mangas para comer", lamentou Tomas Mirione, num relato replicado por vários regressados em Ndande.
Os produtos alimentares, numa zona próxima a Ndande, a aldeia mais atingida pelo conflito, são vendidos a preços exorbitantes e muitos usam os utensílios domésticos doados no campo de refugiados, como mantas, baldes e pratos, como moeda de troca.
“Uma medida de milho está muito caro, e sem recursos muitos não podem comprar" disse Lúcia Alface, uma "viúva da guerra", que agora deve alimentar sete filhos com mangas que apanha na aldeia, ainda ensombrada por escombros.
Os antigos refugiados pedem uma intervenção das autoridades moçambicanas na disponibilização de alimentos e na reintegração das numerosas famílias, a maioriadesmembradas pelo conflito.
Em Ndande falta quase tudo.
Os refugiados estavam no campo de Luwani, no sul do Malawi, e faziam parte de um grupo de 11 mil pessoas que fugiram do distrito de Moatize, província de Tete, centro de Moçambique, entre 2014 e 2015, devido à insegurança provocada pelos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, principal partido da oposição.