Morreu o veterano artista plástico moçambicano Mankew

  • Amâncio Miguel

Mankew - 1934-2021

“Eu pinto com a mesma naturalidade que respiro o ar, poís sou e fui sempre um artista realista,” Mankew, 1984 

O bairro de Xipamanine, arredores de Maputo, perdeu, cerca das 17:00 horas, desta segunda-feira, 13, uma das suas estrelas: Mankew, reputado artista plástico moçambicano.

A morte de Mankeu Valente Mahumana, aos 87 anos de idade, foi anunciada pela família.

“Descanse em paz, pai!”, escreveu no facebook, o seu filho Albino Mahumana, repórter fotográfico e igualmente artista plástico.

Fontes próximas da família disseram que, nos últimos anos, o artista não gozava de boa saúde. Perdera a visão e estava abalado por duas recentes infelicidades, a morte da sua esposa e filho.

Figura de renome no Núcleo de Arte de Maputo, Mankew é da geração de artistas e nacionalistas como Malangatana, Oblino Mabjaia, Chissano, Shikani ou Lindo Hlongo.

Nascido, a 1 de Janeiro de 1934, em Marracuene, distrito da província de Maputo, no sul de Moçambique, antes de iniciar a carreira artística, em 1965, Mankew trabalhou nas minas da África do Sul, durante grande parte da década de 1950.

Realista

Autodidacta, tal como a maioria dos artistas do seu tempo, Mankew participou, pela primeira vez, numa colectiva, em 1968. A sua primeira individual foi em 1973, na antiga Lourenço Marques, hoje Maputo.

Sobre essa fase, Mankew disse, numa entrevista ao semanário Domingo, de Maputo, em 1984, que “os meus pincéis denunciavam a escravatura que o meu povo sofria”.

Após a independência, em 1975, Mankew continua a pintar inspirado na vida dos seus, nas batalhas do seu povo, no que via ao seu redor.

“Eu pinto com a mesma naturalidade que respiro o ar, poís sou e fui sempre um artista realista,” disse Mankew na referida entrevista,

Mankew “insinuou-se no espaço usurpado para falar dos seus. Discreto, sem grandes retóricas indignadas, uma quase monotonia nas cores. A ênfase estava no seu mundo”, escreve, o autor moçambicano Luís Carlos Patraquim, no livro “Com as mãos: 24 artistas moçambicanos”, de Luís Abélard.

Ao longo da carreira de mais de 60 anos, Mankew viu as suas obras exibidas, além de Moçambique, em Portugal, Inglaterra, Noruega, Alemanha, entre outros.