A administradora distrital de Montepuez, em Cabo Delgado, norte de Moçambique, diz que a ajuda humanitária aos deslocados de guerra está a criar situações de ociosidade e de viver de mão estendida e defende que as pessoas devem produzir para o seu próprio sustento.
Analistas sociais e políticos alertam, no entanto, que sem um programa concreto e sustentável de desenvolvimento tal desiderato não será possível.
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O conflito militar que se arrasta há mais de cinco anos em Cabo Delgado provocou mais de 800 mil deslocados, cerca de 300 mil dos quais procuraram refúgio no distrito de Montepuez.
A administradora distrital Isaura Maquina sente o peso deste fardo e diz que numa situação em que diminuiu a intensidade dos ataques terroristas, as pessoas devem produzir ou regressar aos seus distritos de origem.
Veja Também Novos ataques agravam drama humanitário em Cabo Delgado"Nós precisamos de apoio, mas não é arroz com feijão que nos dará sustentabilidade, temos que começar a pensar como ficarmos independentes com o nosso próprio esforço’’, realçou.
A governante esclareceu, no entanto, que ninguém é obrigado a regressar ao seu distrito, mas quem quiser ficar em Montepuez, deve fazer qualquer coisa para o seu sustento.
Veja Também Deslocados em Nampula dizem que assistência não chega para "matar"a fome"Não fique em Montepuez na condição de deslocado para puder ter benefícios, fique em Montepuez para desenvolvermos juntos o nosso distrito", concluiu.
O sociólogo e analista social João Feijó entende a preocupação da administradora porque não é possível estar a alimentar milhares de deslocados, mas lembra que é necessário criar condições para as pessoas produzirem.
Veja Também Crise humanitária pode agravar-se este ano, alertam organizações não governamentais em Cabo Delgado"O grande desafio agora é integrar economicamente as pessoas para poderem produzir e gerar rendimento para diminuir a necessidade das doações, mas isto implica que haja capacidade de assistência econômica a essas pessoas, é preciso que haja um programa concreto de desenvolvimento", defende João Feijó.
Contudo, o jornalista e analista político Fernando Lima realça que neste particular o Governo "tem um grande constrangimento, luta desesperadamente com a falta de fundos para levar a cabo os seus programas de desenvolvimento econômico e social, particularmente em Cabo Delgado".
Enquanto isso, a chefe da Missão da Organização Internacional para as Migrações, Laura Tomm-Bonde, reiterou a determinação daquela agência em continuar a prestar assistência às vitimas da violência em Cabo Delgado, tanto em ações humanitárias como em programas de desenvolvimento.