O Governo de Moçambique pode não aceitar a exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI) de uma auditoria forense às chamadas dívidas escondidas.
A opinião é de analistas que avisam que tal posição pode ter graves consequências.
Ante a situação das dívidas que tinham sido ocultadas nas contas públicas e contraídas sem o seu conhecimento, o FMI exigiu ao Governo de Moçambique uma auditoria forense a essas dívidas.
Esta exigência foi reiterada na semana passada pelo antigo representante do FMI em Moçambique, Alex Segura, afirmando que a auditoria deve apurar o destino dado a essas dívidas, num valor superior a 1.4 mil milhões de dólares.
O economista João Mosca diz que o Estado moçambicano pode não aceitar esta imposição, mas não aceitando isso, não significa, necessariamente, que o FMI deixe de poder fazer a auditoria.
Aquele economista referiu que o Fundo pode fazer uma auditoria forense independentemente da vontade do país, "mas isso leva a que as relações entre Moçambique e o FMI se alterem completamente".
João Mosca é director do Observatório do Meio Rural de Moçambique, que fez parte das organizações da sociedade civil que no passado sábado, 27,organizaram, em Maputo, uma marcha de protesto contra as chamadas dívidas escondidas.
O Presidente moçambicano Filipe Nyusi opõe-se à auditoria externa pelo menos até que existam resultados da investigação que está a ser feita pela Procuradoria-Geral da República.
A questão da dívida pública moçambicana deverá dominar o encontro, este mês, em Washington, entre Filipe Nyusi e a directora-geral do FMI, Christine Lagarde.
Entretanto, sabe-se que uma missão do FMI vem a Moçambique no próximo dia 22 de Setembro para avaliar os progressos económicos e financeiros do país, no seguimento da crise do endividamento.
Governo garante estar a fazer a sua parte
O ministro da Economia e Finanças moçambicano, Adriano Maleiane, por seu turno, afirmou nesta quinta-feira, 1, que está a fazer a sua parte visando o esclarecimento dos contornos das chamadas dívidas escondidas e o reatamento da cooperação financeira com o FMI e com os doadores.
"Estamos a fazer a nossa parte, caberá a eles [FMI] fazerem a avaliação que só eles podem fazer, o relacionamento [com o FMI] tem sido bom", afirmou Maleiane a jornalistas, à margem da visita do chefe de Estado à Feira Internacional de Maputo.
Adriano Maleiane lembrou da aprovação do Orçamento do Estado (OE) revisto, com um pacote de medidas de austeridade, como parte do cumprimento das recomendações de uma missão do FMI.