O desrespeito pelos compromissos de reassentamento asumidos pela mineradora brasileira Vale tem tornado onerosos os funerais da população reassentada em Cateme, no distrito de Moatize, na provincia de Tete, devido a falta de um cemitério próprio.
As críticas não param de aumentar de tom.
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Em 2012, quando a multinacional brasileira Vale iniciou o reassentamento de 700 famílias da cidade de Tete para o distrito de Moatize, na sequência das descobertas de jazigos de carvão mineral, comprometeu-se em construir um cemitério para os reassentados, mas a infra-estrutura nunca chegou a ser entregue aos novos inquilinos de Cateme.
Segundo José Alfaiate, presidente do Comité de Gestão dos Bairros de Reassentamento, a falta de um cemitério para os reassentados da Vale, e posteriormente de outras mineradas, obriga a se recorrer aos cemitérios dos nativos, pagando para cada enterro o valor que varia de 700 a 1000 meticais (11 a 16 dolares), dependendo da idade do falecido, o que tem encarecido os velórios.
“A Vale comprometeu-se em construir um cemitério, mas desde 2010 nunca o fez, incluindo exumar os corpos do antigo cemitério para cá o que recusamos. E agora recorremos para os funerais aos cemitérios de nativos que cobram valores exorbitantes”, disse José Alfaiate, contando o drama de familias que tiveram que ficar com corpos em casa ou em morgues de hospital para juntar dinheiro para o funeral.
O cenário da falta de cemitério, associada à extrema pobreza que se vive na zona, devido ao incumprimento de outros compromissos pelas mineradoras em Tete, incluindo o emprego para jovens reassentados, continua a deixar estampados sinais de revolta na população.
A VOA tentou em vão ouvir a reacção das autoridades de Moatize.
A VOA soube junto de uma fonte próxima da mineradora, que já foi construido um cemitério para os reassentados desde 2010, mas falta entregá-lo oficialmente às autoridades governamentais e à comunidade.
A cerimónia está prevista para o dia 12 de Julho de 2016.
A história
A Vale Moçambique transferiu, de 9 de Novembro de 2009 a 28 de Abril de 2010, mais de 760 famílias (das 1 313 registadas) que habitavam nas zonas de produção de carvão mineral no município da Vila de Moatize, segundo o Centro de Integridade Publica (CIP).
A multinacional começou a transferir as pessoas afectadas pelo seu empreendimento a 1 de Novembro de 2009.
O plano de reassentamento previa a transferência de 1 313 famílias, com igual número de casas.
A empresa pretendia distribuir as pessoas com base no seu estatuto social, separando as “rurais” das “semi-urbanas”.
Tanto os reassentados como fontes do Governo de Moatize consideram que a Vale usou a estratégia de dividir para reinar.
A Vale diz, por sua vez, que a divisão não era para reinar, mas apenas uma questão de justiça: quem sempre viveu como “semi-urbano” merece estar mais próximo da cidade, ao passo que quem ganha a vida cavando a terra sentir-se-á melhor mais longe da cidade.