Domingas Serafim, tem 36 anos. Vive em Nampula, onde há dois anos teve complicações no parto. Nasceram os seus gémeos. A partir daí a sua vida mudou: Alegre por ser mãe e triste por passar a ser uma companhia não desejada por muitos.
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É que as complicações no parto resultaram numa fístula obstétrica, lesão entre o canal vaginal e a bexiga, que impede-a de controlar as suas necessidades.
Domingas passou a fazer parte de uma triste estatística, a de mais de duas mil mulheres moçambicanas que, anualmente, contraem a lesão que causa enorme sofrimento e estigma social.
O apoio do marido e família é importante, mas tratar a lesão é de longe o melhor caminho para restaurar a dignidade.
Neste momento, Domingas está na fila para a cirurgia de tratamento da fístula obstétrica, no Hospital Central de Nampula, o maior da populosa região norte de Moçambique.
No entanto, a fila é enorme e Moçambique só tem capacidade de operar 500 mulheres por ano.
Ela conta que está internada há três semanas e precisou de sangue, uma vez que além de fístula tinha anemia.
Sem data para a operação, Domingas tem esperança de ser tratada, na campanha que teve inicio, semana passada, em Nampula.
Além de operar, os especialistas promovem campanhas de advocacia para eliminar as principais causas da fístula, complicação que afecta em grande número as mulheres que vivem distantes das unidades sanitárias e não têm assistência durante a gravidez, parto e pós-parto.
O Dr. Igor Vaz, cirurgião e urologista, recorda que “as questões culturais constituem também um grande factor no surgimentoda doença”.
A par disso, diz Vaz, “o governo e várias organizações não-governamentais têm estado a divulgar mensagens sobre prevenção e tratamento da doença; a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade é uma delas, onde adolescentes e jovens sobreviventes da fistula obstétrica são embaixadoras da doença e são as mensageiras".
Um dos resultados imediatos disso é que, segundo Vaz, agora há várias mulheres que aparecem às unidades sanitárias se queixando da fístula.
Vaz, que é dos poucos especialistas no país, diz também é preciso formar mais pessoal médico para o tratamento de fistula obstétricas