A Bolsa da Valores de São Paulo, Bovespa, registou fortes perdas logo após a abertura dos mercados nesta segunda-feira, 27, com fortes ajustes de posições após a reeleição de Dilma Rousseff ontem.
Às 10h28 de Brasília, o índice do Bovespa, Ibovespa recuava 5,54 por cento, a 49.061 pontos, pressionado principalmente por acções de estatais como a Petrobras e por bancos.
De acordo com profissionais do mercado ouvidos pela Reuters, o mercado prefere vender enquanto aguarda os novos passos do Governo para lidar com os significativos desafios no campo económico. A expectativa é grande em torno do anúncio da nova equipa económica, em especial de quem assumirá o lugar de Guido Mantega no Ministério da Fazenda.
"No primeiro momento, o mercado não lhe irá dar o benefício da dúvida”, disse o gestor de um fundo no Rio de Janeiro, que pediu o anonimato.
Operadores brasileiros não descartam que seja accionado o mecanismo de "circuit breaker", que controla a oscilação do Ibovespa, interrompendo as negociações por 30 minutos quando a queda alcança 10 por cento. Após esse intervalo, o índice volta a ser vendido, mas se a queda alcançar 15 por cento, as operações voltam a ser suspensas, desta vez com intervalo de uma hora. Se a queda alcançar 20 por cento, ocorre a suspensão dos negócios por prazo a ser definido pela bolsa.
"O crescimento no primeiro mandato de Dilma no cargo foi o mais fraco de qualquer presidente desde o início de 1990 e, na ausência de uma grande mudança na política no seu segundo mandato, esperamos mais do mesmo ao longo dos próximos quatro anos", disse Neil Shearing, economista-chefe dos mercados emergentes da Capital Economics, que diz esperar há muito que a queda de acções, títulos e moeda.
Na sexta-feira, 24, o real fechou em 2,15 por dólar, o seu nível mais fraco desde Abril de 2005, enquanto o Ibovespa caiu mais de 3 por cento.
“A nossa previsão para 2015 é que o real atinga 2,6 por dólar. Enquanto isso, acima da meta de inflação significa que as taxas de juros podem subir ainda mais no curto prazo, apesar a fraqueza do crescimento", continuou disse Shearing.
O Next Funds Ibovespa Linked ETF, um fundo negociado em bolsa na Tokyo Stock Exchange que acompanha várias acções brasileiras, caiu mais de 7 por cento hoje, o que é um sinal muito mau para a economia brasileira.
Críticas à política económica
O Governo de Dilma Roussef foi criticado por “ferir” a economia. Ela foi acusada de interferir nas políticas macroeconómicas e de tentar controlar o sector privado, factores que, segundo especialistas, contribuíram para a redução do investimento directo estrangeiro (IDE) no Brasil. Em Setembro, o IED caiu 38 por cento no ano.
Enquanto isso, os preços do gás subsidiados e a controlo governamental das tarifas de energia eléctrica contribuíram para a actual recessão do Brasil, de acordo com diversos analistas.
A Capital Economics diz não esperar por mudanças na política económica de Roussef que consiga reduzir a inflação e combater a elevada carga fiscal
A confiança dos investidores é a chave para a recuperação económica do Brasil e o novo Governo de Dilma Roussef terá de alterar as práticas administrativas para atrair o investimento externo, de acordo com o banco Societé Generale. No entanto, a instituição não espera quaisquer mudanças importantes a menos que fortes movimentos de mercado ou eventos externos, como a acção política do banco central dos Estados Unidos, o FED, influenciem o governo.