Cerca de uma centena de jovens e membros do partido Nova Democracia protagonizaram na manhã deste sábado, 24 de Junho, uma marcha pacífica que percorreu as principais artérias da cidade de Maputo, com o objectivo de manifestar pela carestia da vida em Moçambique, bem como em celebração dos 48 anos de independência nacional que se assinala este domingo, 25 de Junho.
Contrariamente ao sucedido a 18 de Março de 2023, em que a Força de Intervenção Rápida reprimiu violentamente a marcha em homenagem ao músico e activista social Azagaia causando vários feridos e detidos, desta vez Polícia da República de Moçambique acompanhou a marcha que teve a estátua de Eduardo Mondlane como o ponto de concentração.
“A repercussão que teve a marcha de 18 de Março contribuiu para esta autorização, a Polícia revisitou aquilo que é a sua missão e compreendeu que o povo tem os seus direitos e a marcha tem que ser com ordem e com segurança e aqui podemos ver que ela está presente para garantir a segurança e que as pessoas possam livremente observando o seu direito constitucional”, disse Armando Mahumane, porta-voz da Comissão Organizadora da Marcha.
No entanto, a manifestação teve uma participação longe dos números dos presentes na ocorrida há três meses, quiçá pelo receio da repressão policial, facto que levou ao Presidente do partido Nova Democracia, Salomão Muchanga, a considerar que este acto anuncia nova forma de estar no país em relação à realização de manifestações pacíficas.
"Nunca mais Moçambique voltará a ter medo de se manifestar. O significado profundo deste dia é que estamos a conseguir marchar, manifestar, estamos a libertar os cidadãos do medo", disse Muchanga para a seguir referir que "precisamos de construir um espaço positivo de compreensão dos moçambicanos para fazer com que a liberdade seja a onda de estabilidade do país, mas também para que os processos democráticos nacionais sejam razoáveis e aceites”.
A manifestação de rua percorreu as principais artérias da cidade de Maputo, ou seja, início na estátua de Eduardo Mondlane, percorreu a avenida do mesmo nome, passou pela Karl Marx, até desembocar na Praça da Independência Nacional, e de fronte a estátua de Samora Machel, Primeiro Presidente de Moçambique independente, onde os presentes demonstraram preocupação pelo actual espaço para o exercício da liberdade democrática em Moçambique.
"Este é um desafio constante e permanente para a manutenção da democracia no país, se formos a revistar este recenseamento que tivemos, há riscos gravosos de que o processo eleitoral que se avizinha seja problemático a todos os níveis. As eleições não podem ser um foco de instabilidade e precisam ser competitivas. Moçambique precisa de se reencontrar e fazer uma paz positiva, não é apenas calar as armas, não é apenas recolher a última arma, porque também é a FRELIMO que precisa de se desarmar", referiu.
Cantando refrões das músicas de Azagaia, como “povo no poder”, “ladrões fora”, entre outros, os manifestantes contestaram o precário sistema de transporte público, os baixos salários, a degradação da Estrada Nacional Número Um, o facto de as crianças estudarem de baixo de árvores, os elevados índices de corrupção, a criminalidade, o terrorismo que assola Cabo Delgado, entre outros males que afectam a dignidade humana em Moçambique.