Líderes mundiais apelam a Bangladesh para suspender processo contra o economista Muhammad Yunus

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Muhammad Yunus

As autoridades do Bangladesh classificaram, na sexta-feira, 1, uma carta de mais de 170 figuras globais condenando o “assédio judicial contínuo” do vencedor do Nobel e pioneiro do microcrédito Muhammad Yunus, como “intervenção estrangeira” indesejável no processo judicial do país.

Os signatários da carta de 27 de Agosto incluem o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, o ex-secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, a ex-secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e mais de 100 vencedores do Nobel.

A carta, dirigida à primeira-ministra Sheikh Hasina e publicada na edição internacional do The New York Times, na quinta-feira (31/08)) como um anúncio de página inteira, também expressava preocupações sobre “as ameaças à democracia e aos direitos humanos” no Bangladesh, antes das eleições gerais de Janeiro.

Yunus, 83 anos, é creditado por ter tirado milhões de pessoas da pobreza através do seu uso pioneiro de microcréditos, do Grameen Bank, que fundou em 1983 para os que não podem usar bancos convencionais. Ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2006 pelo seu trabalho de desenvolvimento de base no Bangladesh.

Embora Hasina inicialmente tenha elogiado o trabalho de Yunus e do Grameen Bank, ela mudou de opinião depois de começar a vê-lo como um rival político.

Acusações

Yunus foi afastado do conselho do Grameen Bank em 2011. Nos últimos anos, ele enfrentou dezenas de acusações criminais relacionadas às empresas fundadas por ele.

Num dos casos envolvendo a empresa Grameen Telecom, a comissão anticorrupção acusou-o de lavagem de dinheiro. Noutro processo criminal, outra agência governamental acusou-o de violações da lei de trabalho na mesma empresa (Grameen Telecom).

O seu advogado, Abdullah Al-Mamun, disse à VOA no sábado (9/2) que as acusações de violações da legislação laboral que foram apresentadas contra Yunus são civis ao abrigo da Lei do Trabalho do Bangladesh, mas que o governo apresentou como processo criminal e que o julgamentos foram “acelerados de tal forma que não nos é dado tempo suficiente para apresentar os nossos argumentos no tribunal”.

“Sob tais circunstâncias, tememos que lhe seja negado um julgamento justo”, disse o advogado.

A carta publicada no The New York Times observou que “as duas eleições nacionais anteriores [em 2024 e 2018] careciam de legitimidade” e acrescentou que era de “extrema importância” que as próximas eleições nacionais fossem “livres e justas”.

A carta também destacou a preocupação com o caso contra Yunus.

“Pedimos respeitosamente que suspenda imediatamente o processo judicial em curso contra o professor Yunus. …Estamos confiantes de que qualquer revisão completa dos casos anticorrupção e laborais contra ele resultará na sua absolvição”, lê-se na mesma.

O governo de Hasina reagiu duramente à carta.

Numa conferência de imprensa, em Dhaka, a capital, na sexta-feira, Hasina disse que que o governo não seria influenciado pela carta.

“Os casos [contra Yunus] estão em andamento nos tribunais. O judiciário é completamente independente. Não temos autoridade para intervir nestes casos. Por que é que esta declaração trazida de fora do país pede-nos para retirarmos os casos?” questionou.

Hasina disse que os autores da carta conjunta deveriam enviar os seus especialistas, incluindo advogados, para ver por si mesmos por que Yunus foi acusado.

“Convido-os para verificar os documentos do caso e ver se ele foi acusado falsamente. Não consigo entender como eles querem que o caso contra ele seja suspenso ao emitir tal declaração”, disse ela.

Integridade

Mohammad Ashrafuzzaman, antigo oficial do grupo de direitos humanos Asian Legal Resource Center, com sede em Hong Kong, disse que o sistema judiciário do Bangladesh “não conseguiu emergir com uma imagem de independência e integridade”.

“A actuação do sistema judicial do Bangladesh não corresponde aos princípios universais de justiça. Desconsidera totalmente a noção do direito a um julgamento justo em casos com motivação política,” disse.

Referindo-se a um discurso que Hasina proferiu em Washington em 1997, expressando o orgulho de Bangladesh pelo “excelente trabalho realizado pelo professor Muhammad Yunus e pelo Grameen Bank que ele fundou”, Badiul Alam Majumdar, fundador do grupo pró-democracia Cidadãos pela Boa Governação, disse que ela costumava ser uma fervorosa defensora de Yunus.

“Alguns líderes globais pedem para acabar com o assédio judicial ao professor Yunus e garantir que as próximas eleições gerais sejam livres e justas. Como bengalis, não devemos ignorar as opiniões destes líderes que são os formadores de opinião do mundo”, disse Majumdar à VOA.

“Esses líderes (globais) estão certamente a falar no no interesse dos 170 milhões de habitantes de Bangladesh”, disse ele